Título: TURBULÊNCIA NOS MERCADOS PREOCUPA
Autor: Flávia Oliveira/Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 01/06/2006, Economia, p. 23

Ipea vai rever PIB para cima, mas Brasil cresce menos que emergentes

O desempenho da economia no primeiro trimestre, embora positivo, não desencadeou a costumeira onda de revisões das estimativas de crescimento. Apenas o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) anunciou ontem mesmo que vai alterar sua projeção "ligeiramente para cima". Não por acaso, sua previsão atual de expansão para o PIB deste ano é de 3,4%, uma das mais baixas do mercado. Outras instituições não descartam rever para baixo seus números, se o ambiente de instabilidade internacional se prolongar.

É o caso, por exemplo, do Grupo de Conjuntura da UFRJ. Segundo Antonio Licha, coordenador do grupo, a estimativa de um crescimento de 4% no PIB pressupõe que a atual turbulência financeira seja passageira. Caso contrário, a economia poderá crescer um pouco menos. Giovanna Rocca, do Unibanco, prevê uma expansão de 3,5%, mas também teme que as dúvidas no cenário externo interrompam o ciclo de corte de juros do Banco Central e levem a uma alta do dólar, o que afetaria os investimentos e a renda das famílias.

Com base nos bons números do PIB no primeiro trimestre, Fabio Giambiagi, do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Ipea, informou que no boletim a ser divulgado na próxima semana a projeção para a economia estará melhor. Mas não tão boa quanto a do Banco Central, que trabalha com 4% de expansão em 2006. Para Giambiagi, um crescimento de 4% implicaria em um dinamismo nos três demais trimestres que a economia dificilmente terá. Ele atribuiu o resultado de janeiro-março à queda dos juros e à forte oferta de crédito. Mas reconhece que o cenário internacional pode influenciar negativamente:

- No ambiente doméstico não há nada que mude a perspectiva de redução de juros, que beneficia o crescimento. Tudo vai depender do cenário externo.

Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments Brasil, decidiu não mexer em sua projeção de crescimento para este ano, de 3,5%. A má conjuntura internacional, se prolongada, tende a influenciar os resultados do quarto trimestre de 2006 e do primeiro de 2007. Apenas um agravamento muito intenso reduziria o crescimento do PIB brasileiro este ano.

Qualquer que seja o cenário, a economia do Brasil deve crescer menos que a média mundial este ano, projetada em 4,5%. No primeiro trimestre, para um conjunto de 21 países para os quais já há estatísticas disponíveis, o desempenho do PIB brasileiro foi o 12º pior, segundo levantamento feito pela GRC Visão.

- Entre os países emergentes, ficamos na lanterninha - resume Jason Vieira, economista da GRC.

A China, por exemplo, cresceu 10,3% no primeiro trimestre e a Índia, 9,3%, contra uma expansão de 3,4% do Brasil (frente a igual período do ano passado). O México teve um avanço de 5,5% e a Rússia, de 4,6%. (Flávia Oliveira e Luciana Rodrigues)