Título: INDÚSTRIA MOSTRA CAUTELA
Autor: Regina Alvarez/Luiza Damé/Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 01/06/2006, Economia, p. 24

Entidades não esperam bom desempenho no segundo trimestre

SÃO PAULO e RIO. As principais entidades da indústria no país reagiram com cautela à expansão de 1,4% do PIB no primeiro trimestre deste ano. O setor, que cresceu 5% e puxou a alta do PIB, considera difícil a produção industrial repetir no trimestre corrente o vigor do primeiro.

- A atividade da indústria extrativista e as importações de bens de capital ajudaram o setor no trimestre passado. Mas a indústria de transformação está com o desempenho bem morno neste trimestre - disse o presidente do Centro das Indústrias de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o crescimento do PIB brasileiro ainda está muito abaixo da média mundial. Segundo ele, a indústria brasileira vive duas realidades completamente diferentes:

- Há um grupo que vai muito bem, caso das indústrias extrativistas (petróleo, minério), sucroalcooleira e eletroeletrônica. E outro que vai muito mal, como as indústrias calçadista, moveleira, têxtil e de confecção.

A existência desses "dois Brasis", divididos por juros altos, câmbio valorizado, burocracia e problemas de infra-estrutura, segundo Skaf, explica o ritmo lento do crescimento do país. Para o ano, a Fiesp estima alta do PIB entre 3,5% e 4%.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) vai na mesma direção: não espera que a indústria mantenha o ritmo no segundo trimestre. Em nota, o Iedi disse que "a manutenção da política de redução de juros continua sendo fundamental para que a expansão do PIB se sustente ao longo do ano".

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, embora os números do primeiro trimestre sejam auspiciosos, a taxa ainda está muito abaixo do crescimento de outras economias emergentes, como Índia e China. Entre os obstáculos que impedem um crescimento mais vigoroso do Brasil, ele apontou a alta carga tributária e os juros elevados, "que transferem poupança do setor produtivo ao governo".

Antônio Carlos Borges, diretor-executivo da Fecomércio-SP, também não está otimista com o segundo trimestre. Ele espera expansão de até 3% no PIB no ano, e de 3,5% no comércio.

- A economia terá crescimento pífio este ano. Os setores que devem avançar nos próximos meses não estão ligados a crédito, pois o consumidor está endividado. (Lino Rodrigues, especial para O GLOBO, e Fabiana Ribeiro)