Título: BC REDUZ JUROS PARA 15,25% E O RITMO DE QUEDA
Autor: Patrícia Duarte
Fonte: O Globo, 01/06/2006, Economia, p. 25

Corte na taxa, que está no menor nível histórico, foi de 0,5 ponto percentual, contra 0,75 das reuniões anteriores

BRASÍLIA. Com cautela reforçada, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu ontem em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros, que passa a ser de 15,25% ao ano e volta ao seu menor patamar histórico, obtido no início de 2001. A decisão foi unânime e dentro da expectativa do mercado, que acredita que o cenário internacional mais tumultuado nos últimos dias ajudou o Banco Central (BC) a frear o movimento de redução da Selic. Nas últimas três reuniões, as reduções ficaram em 0,75 ponto cada, mas já somam oito cortes desde que o BC começou a diminuir a taxa, em setembro passado.

Os especialistas receberam bem o movimento do BC, que acabou repetindo a mesma nota da reunião anterior, apenas informando que continuará acompanhando "a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião (18 e 19 de julho), para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Cenário internacional teria pesado na decisão

O fato de não ter sido mais explícito agora sobre a atual volatilidade no cenário externo foi ressaltado pelos economistas, que continuam não descartando novos cortes daqui para frente.

- O BC sinalizou serenidade ao mercado. Neste momento, o melhor é apenas observar - afirmou a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif, que aposta em novas reduções caso o cenário internacional se mostre mais tranqüilo a curto prazo.

O BC já havia dado o primeiro sinal de que poderia desacelerar o corte da Selic no mês passado, quando publicou a ata da reunião anterior e informou que teria mais parcimônia na condução da política monetária. Entre outros pontos, a autoridade monetária justificou que ainda não tinha avaliado claramente o real impacto dos cortes já feitos, que agora somam 4,5 pontos desde setembro.

Para especialistas, o nervosismo do mercado internacional, que anda sem rumo com temores de novos aumentos na taxa de juros nos Estados Unidos (hoje em 5% ao ano), deve continuar acendendo a luz amarela a curto prazo. O importante, ressaltam, é ver a ata da reunião de ontem, que será divulgada na próxima semana e poderá trazer avaliações mais detalhadas sobre o atual cenário.

Juros reais ainda estão mais elevados do que em 2001

De positivo, pesam os dados internos, que continuam dentro dos trilhos. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) de 1,4% no trimestre passado, por exemplo, foi comemorado e mostrou fortalecimento dos investimentos, ao mesmo tempo em que não indica riscos para a inflação.

- Os dados internos estão muito bem. Estamos vendo crescimento sem indícios de inflação mais pesada no futuro - avaliou o economista-chefe do WestLB, Adauto Lima, para quem a Selic encerrará 2006 a 14,50%.

Apesar de a Selic ter voltado para seu menor nível nominal, os juros reais (que descontam a inflação) ainda não chegaram lá. Isso porque, em 2001, a inflação ficou em 6% pelo IPCA e, para este ano, está projetada em 4,32% segundo o relatório "Focus", do BC, abaixo da meta para o período, de 4,50%. Assim, as taxas reais daquele período de 2001 ficariam em aproximadamente 9,25%, e as de 2006 poderão ficar em cerca de 10,95% anuais, tomando como hipótese que a atual Selic não será mais alterada até o fim do ano.

Para o consumidor, impacto ainda é pequeno

Para o consumidor final, a redução feita pelo Copom ontem terá efeito praticamente marginal. De acordo com cálculos da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), as taxas médias cobradas pelo cheque especial, por exemplo, deverão cair de 8,16% para 8,14% ao mês, enquanto que pelo empréstimo pessoal de bancos, a queda deve ser de 5,54% para 5,52%. O impacto será parecido para as empresas. As taxas médias para capital de giro, hoje em 4,18% ao mês, passarão para 4,16%. No desconto de cheques, os juros cairiam de 4% para 3,98% mensais.

A reunião de ontem do Copom teve a presença de apenas sete dos nove integrantes originais, formados pelos diretores do BC e o presidente do banco, Henrique Meirelles. O novo diretor de Estudos Especiais do BC, Mário Mesquita, assume seu cargo apenas hoje, enquanto o novo diretor de Assuntos Especiais, Paulo Vieira da Cunha, toma posse este mês, mas a data ainda não foi marcada por causa de sua agenda pessoal.