Título: DÓLAR SOBE DIANTE DE INCERTEZA DO BC AMERICANO
Autor: Diogo de Hollanda
Fonte: O Globo, 01/06/2006, Economia, p. 26

Moeda fecha a R$ 2,323 e Bovespa sobe 0,32%. Ata do Fed cita preocupações inflacionárias e temor de desaceleração

RIO e WASHINGTON. Saiu o que o mercado tanto esperava: a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), na qual este elevou a taxa básica dos Estados Unidos de 4,75% para 5% ao ano. Mas o texto não serviu para acalmar os investidores após mais de 20 dias de turbulência, já que o Fed mostrou incerteza sobre quanto mais os juros deverão subir. Logo após a divulgação, por volta das 15h no Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que subia perto de 1%, perdeu força, chegou a cair 0,13% e acabou fechando em alta de 0,32%, a 36.530 pontos. Já o dólar comercial subiu 0,48% e fechou a R$2,323. O Banco Central (BC) fez novo leilão de swap cambial, o que equivale a uma venda de dólares no mercado futuro, e ajudou a segurar a cotação.

No mês, a moeda acumulou valorização de 11,25%, a maior alta registrada em um mês desde setembro de 2002. Já a Bovespa concluiu maio com perda de 9,49%, sua maior queda mensal desde abril de 2004 (quando recuou 11,45%), segundo cálculos da consultoria Economática. Ontem, o risco-Brasil, calculado pelo banco americano JP Morgan, caiu 4,31%, para 278 pontos centesimais.

A elevação dos juros americanos em 10 de maio, pela 16ª vez consecutiva, e as expectativas de novas altas desencadearam recentemente uma onda de nervosismo nos mercados mundiais, sobretudo nos países emergentes. Isso porque juros mais altos nos Estados Unidos levam investidores a venderem seus ativos considerados mais arriscados, como ações e títulos de nações como o Brasil, para aplicar em papéis do governo americano, vistos como de risco zero. Isso tem impacto na cotação do dólar, já que investidores locais também tendem a comprar dólares para se proteger.

No texto da ata, o Fed mencionou tanto os fatores que podem impulsionar a inflação nos Estados Unidos, como o dólar fraco e os altos preços de commodities e energia, quanto os riscos de desaceleração da economia.

"Dados os riscos para o crescimento e a inflação, os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto estavam incertos sobre em que proporção a taxa terá, se tiver, de subir", afirmou o documento.

Entre os fatores que podem reduzir o ritmo do crescimento econômico o Fed apontou a desaceleração do mercado imobiliário, provocada pela própria alta dos juros.

- Nos últimos quatro meses só temos recebido sinais confusos e incerteza do Fed de Bernanke - disse Rich Yamarone, diretor de Pesquisa Econômica da consultoria Argus Research, à CNN. - Não sei quanto mais de incerteza Wall Street vai agüentar.

Apesar do tom de incerteza da ata, as bolsas americanas fecharam em alta: o Dow Jones subiu 0,67% e o Nasdaq, 0,65%. Mas, no mês, os índices fecharam com a maior queda em um ano, de 1,8% e 6,2%, respectivamente. As estimativas para uma nova alta passaram de 58%, na terça-feira, para 70%.

BC prossegue com leilões para evitar alta no câmbio

Ontem, pelo segundo dia consecutivo, o BC vendeu oito mil contratos de swap cambial, correspondentes a US$399 milhões. O objetivo da operação, ressuscitada na terça-feira após dois anos de jejum, é evitar uma alta maior do dólar, já que os contratos são usados como proteção por quem tem compromissos em dólar. O BC receberá a variação dos juros em período determinado e os investidores, a do dólar.

- O Banco Central está correto em evitar altas exageradas, porque elas podem virar uma bola de neve e contaminar os fundamentos da economia, como a inflação - comentou o economista-chefe da corretora Liquidez, Marcelo Voss.