Título: HUMALA CRESCE NA RETA FINAL
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O Mundo, p. 30

Nacionalista acusa adversário de ter tentado um golpe de Estado contra Toledo

LIMA. Apesar de estar em segundo lugar nas pesquisas, o líder nacionalista peruano Ollanta Humala não perdeu as esperanças de vencer as eleições presidenciais de domingo. Colaboradores do fundador do movimento União pelo Peru (UPP) asseguram que as intenções de voto em Humala cresceram muito nos últimos dias e que a vantagem do ex-presidente e candidato aprista Alan García está diminuindo drasticamente.

Imagem prejudicada pelo apoio explícito de Hugo Chávez

Ontem, o ex-militar - que comandou uma fracassada tentativa de golpe de Estado em 2000 contra o governo de Alberto Fujimori (1990-2000) - acusou o Partido Aprista Peruano de ter tentado orquestrar um golpe de Estado para derrubar o atual governo do presidente Alejandro Toledo.

- Por um lado, incitam a violência e por outro se apresentam como democratas - alfinetou Humala, que hoje encerrará sua campanha na cidade de Cuzco, onde obteve um dos melhores resultados no primeiro turno.

Assessores do candidato aprista admitiram ao GLOBO que a vantagem de García diminuiu nos últimos dias, mas garantiram que ele vencerá a eleição por uma diferença entre 7 e 10 pontos percentuais. Já membros do comando de campanha do candidato nacionalista asseguraram que Humala tem grandes chances de derrotar o candidato aprista.

- O que aconteceu, no nosso ponto de vista, foi que aumentou o número de pessoas que decidiram votar em branco. Olhando os números, parece que Ollanta ganhou eleitores, mas na verdade eram votos emprestados a Alan, votos de outros candidatos, que passaram a ser votos em branco - explicou um dos principais colaboradores do ex-presidente.

De acordo com o colaborador, García "perdeu alguns votos de pessoas que haviam decidido votar no mal menor, no candidato menos perigoso".

- O que as pesquisas estão mostrando é que muitos eleitores estão reavaliando a opção pelo Apra e talvez terminem decidindo votar em branco. Mas Humala não cresceu - insistiu a fonte.

Muitos peruanos decidiram votar no candidato aprista por medo ao que poderia acontecer caso vencesse Humala, cujo movimento nacionalista é associado ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

- Uma velhinha me disse no outro dia que vai votar em Alan tremendo, não de velha e sim de medo - comentou o camelô José Vargas, decepcionado com a falta de alternativas em seu país.

Estima-se que 20% dos eleitores peruanos estejam ainda indecisos. Diante deste panorama, Humala dedica os últimos dias de campanha a tentar melhorar sua imagem, prejudicada pelo apoio explícito de Chávez.

Candidato se cala na reta final da campanha

O candidato nacionalista reduziu drasticamente sua presença nos meios de comunicação - ontem foi cancelada uma entrevista coletiva - e optou por concentrar os esforços em sua cruzada pela conquista do voto dos eleitores indecisos.

- Não serei candidato dos Estados Unidos, nem de Cuba nem da Venezuela. Peço a todos os governos e presidentes estrangeiros que não interfiram na campanha peruana - declarou o candidato nacionalista, num claro recado ao aliado Chávez.

Humala assegurou ainda que seus seguidores aceitarão o resultado eleitoral e não provocarão incidentes violentos no país.

- Não faria sentido buscar a violência. Ainda temos um longo caminho a percorrer - afirmou. (Janaína Figueiredo)