Título: PERU: GARCÍA AMEAÇA CONGRESSO
Autor: Janaína Figueiredo
Fonte: O Globo, 01/06/2006, O Mundo, p. 30

Candidato favorito à Presidência diz que se vencer convocará nova eleição legislativa

Com a convicção de que o povo peruano lhe dará a oportunidade de voltar a governar o país, o ex-presidente (1985-1990) e candidato do Partido Aprista Peruano, Alan García, antecipou ontem o que poderá ser uma das medidas mais polêmicas de seu eventual segundo governo: a dissolução do Congresso e a convocação de novas eleições legislativas.

Candidato favorito, García sabe que, caso vença o líder nacionalista Ollanta Humana no domingo, deverá governar com um Congresso dominado pela oposição. De acordo com dados preliminares, o movimento União pelo Peru (UPP), fundado no ano passado por Humala, terá de 40 a 45 congressistas. Os herdeiros do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), reunidos na Aliança pelo Futuro (AF), conseguiria eleger de 12 a 14. Já o Apra, o partido mais tradicional do país, teria 35 ou 36.

Longe de Chávez, perto de Lula

O novo Congresso foi eleito em 9 de abril, no dia em que foi realizado o primeiro turno da eleição presidencial. O artigo 134 da Constituição dá ao Poder Executivo a faculdade de dissolver o Congresso caso o Legislativo se torne um obstáculo para a implementação de medidas consideradas fundamentais pelo governo. Para García, o futuro do Congresso dependerá da implementação de drásticas medidas de austeridade e transparência.

- O povo peruano exige que a classe política mude. O povo peruano está quase gritando "que saiam todos", e para evitar isso os políticos devem reduzir seus privilégios, eliminar imunidades, cortar despesas para destinar esse dinheiro a programas de saúde e educação. Se o Congresso não quiser fazer isso, convocarei novas eleições legislativas - declarou o líder aprista, depois de uma entrevista à Rádio Programas.

Sempre de bom humor e sorridente, o ex-presidente disse que fará tudo o que for necessário para aplicar as mudanças necessárias e para que o povo não diga "que saia Alan". Importantes colaboradores do candidato disseram ao GLOBO que a dissolução do Congresso é quase uma decisão tomada.

- Precisamos ter maioria - afirmou uma fonte.

Na reta final da campanha eleitoral, a briga entre García e Humala é cada vez mais uma disputa entre o líder aprista e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que não se cansa de defender o candidato nacionalista. Ontem, além de desfiar um rosário de críticas a Chávez - chamado por García de novo rico, ditadorzinho tropical e tutor dos bolivianos - o candidato aprista manifestou desejo de se aproximar dos governos de Lula e da presidente chilena Michelle Bachelet, estratégia que minimizaria a influência do presidente venezuelano na região.

- Queremos limitar a expansão de um modelo militarista e autoritário do presidente Chávez. Temos um vizinho muito mais poderoso e amigável que é o Brasil, mais democrático e socialista. Confio numa aproximação entre o Peru e o Brasil e também com o modelo socialista chileno - declarou.

De acordo com colaboradores de García, há pouco mais de um mês o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência brasileira, Marco Aurélio Garcia, esteve em Lima e se reuniu com os dois candidatos peruanos. O encontro com García, disseram os apristas, foi muito bom.

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