Título: TARSO REAGE A 'CHOQUE DE ÉTICA' PROPOSTO POR FH
Autor: Maria Lima/Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 02/06/2006, O País, p. 8

'Essa visão não tem fundamento'

SÃO PAULO. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem em palestra um choque moral e ético no país, o que levou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, a reagir. Segundo Tarso, o choque defendido pelo ex-presidente é uma idéia sem fundamento:

- Todos nós desejamos criar condições institucionais, legais e políticas para melhorar a questão da ética pública. Agora, essa visão de choque de ética não tem qualquer fundamentação porque a ética se constrói processualmente no interior do Estado e no interior da sociedade civil. Se tem alguém que se corrompe dentro do Estado, essa corrupção é induzida por um corruptor que vem de fora. Portanto, isso não é somente questão do Estado brasileiro. É uma questão do Estado e da sociedade, um acúmulo cultural, político, ideológico e também jurídico na transparência do Estado e no controle social do Estado - disse Tarso.

Para Fernando Henrique, que deu palestra ontem na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), a indignação tem que vencer a indiferença.

- A complacência e a indulgência chegaram a tal ponto que estamos no limite entre a indiferença e a indignação. Mas está vencendo a indiferença. E tem de vencer a indignação para reconstruir o país. Não é só fulano que vai salvar. Não vai salvar. Tem de mudar muita coisa nas estruturas. Qualquer que seja o presidente eleito, sem indignação não vai ter força para mudar.

Depois de um almoço com empresários em São Paulo, Tarso afirmou que o PMDB tem vocação para fazer parte do próximo governo, seja do PT ou do PSDB. Ele afirmou que os líderes petistas estabeleceram como meta fechar um acordo político com os peemedebistas para as eleições de outubro:

- A gente tirou uma síntese ontem (anteontem), em função dessas diferenças regionais que o PMDB tem, que pode ser sintetizada no seguinte: PMDB com Lula, com ou sem coligação. É isso que a maioria dos líderes partidários estão trabalhando.

O ministro voltou a dizer que o PMDB, como maior força política de uma eventual coalizão, teria o "direito óbvio" de indicar o vice, em uma chapa com o presidente Lula.