Título: CHÁVEZ E IRÃ PROPÕEM PETRÓLEO EM EURO
Autor: Ramona Ordonez
Fonte: O Globo, 02/06/2006, Economia, p. 28

Opep decide manter nível da produção e pode admitir Angola, Sudão e Equador

CARACAS. Os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) já falam em vender petróleo em euros em vez de em dólares. A proposta foi apresentada ontem pelo Irã na reunião do cartel na capital venezuelana. A Opep também informou que pode ser ampliada, com a entrada de Angola, Sudão e Equador.

O ministro de Energia da Venezuela, Rafael Ramírez, manifestou seu apoio à proposta iraniana. E o ministro de Petróleo do Irã, Sayed Kazem Vaziri Hamaneh, disse que, mesmo não havendo decisão coletiva da Opep, cada país poderia vender na moeda que preferisse, "inclusive o euro".

- O Irã tem uma iniciativa que nós respaldamos. Eles começaram a fazer transações em euros - disse Ramírez à emissora estatal da Venezuela.

A venda de petróleo em euros poderia estimular a demanda mundial pela moeda européia. Para alguns analistas, Venezuela e Irã estariam, com isso, tentando abalar o valor do dólar.

- Foram dois anos consecutivos de desvalorização do dólar, em média de 20%, e isso afeta o preço real que tentamos obter por nosso principal recurso - disse o ministro.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, também manifestou seu apoio à proposta, aproveitando para alfinetar o governo George W. Bush:

- O dólar se enfraquece sobretudo por causa da política irresponsável do governo dos Estados Unidos. O déficit fiscal dos EUA é o maior da história das nações, o gasto militar aumenta, eles emitem bônus sem qualquer sustentação, a economia americana é uma verdadeira bolha que ameaça o mundo.

Apesar das críticas, os EUA são o principal comprador do petróleo venezuelano.

Outro ponto da reunião foi o atual patamar dos preços. A Opep decidiu manter sua cota de produção no nível atual, de 28 milhões de barris diários, apesar de a Venezuela ter proposto um corte e defender publicamente um piso de US$50 para o barril. A decisão se refletiu nos mercados: o barril do Brent recuou 1,46%, para US$68,37, e o leve americano, 1,35%, para US$70,34.