Título: KHAMENEI AMEAÇA BLOQUEAR PETRÓLEO NO GOLFO
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Fonte: O Globo, 05/06/2006, O Mundo, p. 20

Líder supremo iraniano afirma que reagirá a qualquer `movimento errado¿ dos EUA contra a república islâmica

TEERÃ. Numa reação desafiadora à pressão dos Estados Unidos para que seu país interrompa as atividades nucleares, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou ontem que, diante da qualquer ¿movimento errado¿ de Washington em relação à república islâmica, esta bloquearia a passagem de navios petroleiros pelo Golfo Pérsico ¿ o que comprometeria o abastecimento mundial.

¿ Para ameaçar o Irã, vocês (americanos) dizem que podem garantir o movimento de petróleo nesta região. Vocês devem saber que se fizerem qualquer movimento errado em relação ao Irã, o fluxo de energia nessa região estará em sério perigo. Vocês não são capazes de garantir a segurança ¿ afirmou o líder, referindo-se ao estratégico Estreito de Ormuz, que controla a saída do Golfo Pérsico.

A declaração do líder, que tem a última palavra num país que é o quarto maior exportador de petróleo do mundo, foi feita num pronunciamento por ocasião do 17º aniversário de morte de seu antecessor, o aiatolá Khomeini, que liderou a Revolução Islâmica em 1979, para em seguida romper as relações com os EUA. Khamenei discursou num pódio enfeitado com uma frase de Khomeini: ¿Os EUA não podem fazer coisa alguma¿.

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, procurou, porém, amenizar a ameaça iraniana.

¿ Acho que não deveríamos dar muita ênfase a um movimento dessa natureza, afinal, o Irã depende muito dos ganhos com petróleo ¿ afirmou à TV Fox News.

O preço internacional do petróleo está acima de US$70 o barril, próximo de um recorde, em parte devido ao temor de que as exportações iranianas sejam afetadas pela questão nuclear. O Irã produz 3,85 milhões de barris por dia.

Solana irá a Teerã para propor pacote de incentivos

Condoleezza afirmou que o Irã precisará de um tempo para avaliar um pacote de incentivos ao país formulado sexta-feira por ela e os chefes da política externa de mais cinco potências (China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha), com o objetivo de convencer Teerã a desistir de enriquecer urânio ¿ atividade essencial à fabricação de armas nucleares.

A secretária disse que o governo iraniano ainda não recebeu a proposta. Sábado, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que poderia analisá-la e se dispôs a dialogar com o Ocidente, mas voltou a deixar claro que é um direito de seu país enriquecer urânio, atividade que diz ter objetivos puramente relacionados à produção de energia.

A seis potências não divulgaram os incentivos que oferecerão ao Irã, mas analistas afirmaram que eles incluiriam ofertas de reatores nucleares e de garantias de segurança. Recentemente, a Europa ofereceu ao Irã um reator na tentativa de convencer o país a desistir do programa nuclear, mas não teve sucesso. Para entregar a nova proposta, o chefe da política externa da União Européia, Javier Solana, deverá ir a Teerã nos próximos dias.

Em suas duras declarações, Khamenei não explicou o que consideraria um ¿movimento errado¿ dos EUA, o que analistas interpretaram como a imposição de sanções ou mesmo uma ameaça militar. Mas, procurando não alimentar temores entre os iranianos, ele disse:

¿ Não temos a intenção de fazer guerra com qualquer governo.

Acrescentou, porém, que se alguém quiser impedir o Irã de perseguir seus objetivos, ¿sentirá a ira desta nação¿.