Título: Pesquisas, delírios e fobias
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 03/06/2006, O GLOBO, p. 2

Inebriar-se com os números das pesquisas e acreditar que eles asseguram a vitória é tentação perigosa. O presidente Lula está cedendo a esse comichão. Brigar com as pesquisas e tentar culpá-las pelo mau desempenho dos candidatos é outro erro que costuma ter custos. O candidato Geraldo Alckmin, através de aliados, está começando a dar sinais dessa fobia.

De tudo o que Lula disse anteontem em Manaus, o mais revelador de sua autoconfiança foi o conselho aos adversários para que aprendam a perder. Diz isso quem acha que já ganhou. Lula tem feito seguidas advertências aos petistas e aos aliados para que evitem o salto alto. Os outros até podem manifestar excesso de autoconfiança. Quem não pode é o candidato. Isso dá munição aos adversários e desperta antipatia nos eleitores.

¿ A vertigem das pesquisas costuma provocar grandes tombos ¿ dizia ontem Aécio Neves. Outros tucanos e pefelistas também atacaram a soberba dos índices.

Aqui em Brasília, em 1998, Cristovam Buarque, então no PT, favorito nas pesquisas para governador, perdeu a eleição no debate da véspera com Joaquim Roriz, do PMDB. Atuou com desdém, virou o vento. Não faltam exemplos.

Mas tucanos e pefelistas prometem pegar Lula pela língua por tê-los desafiado a mostrar cenas das CPIs. Se Lula quis dizer que não teme o uso das denúncias, os adversários estão dando às suas frases uma embalagem perigosa, pela qual teria dito que tudo o que aconteceu não tem importância, nem gravidade. A oposição previa ontem que esse tiro pode sair pela culatra. É ver.

Brigar com as pesquisas não é uma boa técnica. Passa ao eleitorado mensagens negativas. Candidato que não aceita os resultados de pesquisas não mostra humildade para aceitar também o das urnas. Passa a idéia de arrogância: o candidato é bom, se não vai bem é por culpa dos outros.

O PSDB e o PFL têm lançado freqüentes desconfianças contra os institutos. Quando o Sensus apresentou a primeira pesquisa com Lula competitivo depois das quedas, em janeiro, os tucanos ameaçaram pedir uma auditoria ao TSE. Como outras pesquisas confirmaram a tendência, calaram-se. Mas sempre que Lula avança, alguém lança dúvidas sobre as pesquisas. Ontem o prefeito Cesar Maia, em seu ex-blog, questionou aspectos da pesquisa Ibope mostrando Lula com 48% de preferência no primeiro turno e Alckmin com 18%.

Diz Cesar: ¿Ô Alckmin ! Não fique chateado. O Ibope é assim mesmo. No final ele acaba acertando. Às vezes uma semana antes da eleição. É o método de aproximações sucessivas.¿

Cesar suspeita de que, nessa última pesquisa, o Ibope tenha feito Lula crescer dentro da margem de erro na simulação de segundo turno (de 49% para 53%) e deixado Alckmin no mesmo lugar, 31%. Denuncia essa e outras supostas manipulações sem provas.

O dado de sua análise que anima seus aliados é sobre a avaliação do governo. Entre 8 e 11 de março, segundo o Ibope, a soma de ótimo e bom era de 38%, índice que agora não mudou, embora eleitoralmente Lula tenha crescido.

Culpar ou tomar porre de pesquisas são práticas ruins para eles mesmos.

O encontro Lula-Quércia começa a produzir efeitos. Ontem o presidente do PMDB, Michel Temer, deu tiro certeiro na candidatura própria, embora isso não signifique que haverá aliança com o PT.