Título: O `CÓDIGO¿ DA OFENSA
Autor: D. EUGENIO SALES
Fonte: O Globo, 03/06/2006, Opiniao, p. 7

No início do 3º milênio da era cristã faz bem refletir sobre a longa existência da Igreja Católica. Essa atitude é fonte de paz e confiança no futuro para seus integrantes e irritação para os que lhe são adversos.

Reconheço que somente a luz da fé, vivida, pode iluminar esse raciocínio sobre uma instituição formada por seres humanos, na qual se integra o Verbo de Deus, Jesus Cristo. O não-crente julga por critérios terrenos. No decorrer da História, a Igreja passou por muitas crises, perseguições vindas de fora e também problemas originários do seu interior. A garantia da sobrevivência assegurada pelo seu Fundador ¿ ¿as portas do inferno não prevalecerão¿ (Mt 16,18) ¿ não inclui a ausência de ataques no decorrer dos séculos. As palavras do então cardeal Joseph Ratzinger, na homilia da missa ¿Pro eligendo romano pontifice¿, a 18 de abril de 2005, fazem-nos refletir: ¿Quantos ventos de doutrina conhecemos nesses últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantos modos de pensamento...¿

O evidente objetivo é tentar desmoralizar a Igreja Católica, como se isso fosse possível. O anticlericalismo está presente por toda a parte. O autor, de ¿O Código Da Vinci¿, e o diretor do filme, com certa inteligência, elaboram uma ¿caricatura¿ da obra de Cristo e alcançam seus objetivos. Tanto o livro quanto o filme são altamente ofensivos aos cristãos. Atingem o que existe de mais sagrado em nossa Fé.

Isso ocorre em um período da história no qual brilha com fulgor a presença da Igreja no mundo. No ano passado, tratei, neste espaço, de uma publicação do departamento central da Santa Sé. Sobre ela o jornal ¿L¿Osservatore Romano¿, edição em português, de 14 de março de 2005, sob o título ¿Uma Igreja em crescimento¿, traz uma série de dados relativos aos últimos 25 anos de vida eclesial. Apresenta uma visão global e otimista. O número de católicos de 1978 a 2003, que era de quase 757 milhões, chegou a 1 bilhão e 85 milhões, um crescimento, portanto, de 329 milhões de fiéis, no período, e uma porcentagem de 43,5%.

Os últimos momentos da vida terrena de João Paulo II e de seu ingresso na vida eterna foram marcados por algo de excepcional na história da humanidade. Em torno de seus restos mortais, uma multidão de pessoas, desde os poderosos da terra ¿ 172 reis, rainhas, presidentes, primeiros-ministros, representantes de povos, participaram das últimas homenagens a quem serviu à causa da paz, lutou contra a miséria, as injustiças.

Na homilia por ocasião do início do ministério petrino, Bento XVI se expressava nestes termos: ¿Sim, a Igreja é viva: eis a maravilhosa experiência destes dias. Precisamente nos dolorosos momentos da doença e da morte do Papa isto se manifestou de modo maravilhoso aos nossos olhos: que a Igreja é viva. E a Igreja é jovem. Ela leva em si o futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro.¿

Em diversos países houve uma reação a essas infelizes obras: o livro e o filme, por parte de cristãos e pessoas de bom senso. Como reagir a essa ofensa a Deus e aos fiéis? Devemos aproveitar a oportunidade para fortalecer nossa fé e iluminar nossos conhecimentos sobre a Igreja.

O ¿êxito¿ do livro e do filme apenas demonstra como o poder da propaganda e a força da mídia podem ser utilizados para o mal. Movimentou milhões de pessoas proporcionando um lucro financeiro fora do comum. Nada disso sucederia se cristãos não tivessem dado o apoio com sua presença. O fato manifesta a fragilidade da vida religiosa entre tantos que afirmam seguir os ensinamentos deixados por Cristo para a salvação da humanidade. Fico a pensar o que teria sido se a imagem de seus pais e mães, vivos ou mortos, fossem utilizadas como foi a sagrada pessoa de Jesus Cristo, vendido outra vez. As moedas recebidas por Judas nada representam diante da fortuna usufruída pelos autores do livro e do filme.

Jesus Cristo foi escândalo e loucura para alguns em seu tempo. E assim continua sendo séculos afora. A Igreja possui uma doutrina que lhe foi legada por Jesus e confiada aos doze apóstolos, sob a direção de Pedro. Não são poucos os que reagem contra esses ensinamentos. Cito por exemplo: a defesa da vida, desde a concepção, a disciplina litúrgica, as normas diante de um mundo inimigo de Cristo. Esses dias são um convite a conhecer melhor a Igreja e a obedecer ao Senhor Jesus. Esta é uma resposta cristã.

D. EUGENIO SALES é cardeal-arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio.

Tanto o livro quanto o filme atingem o que existe de mais sagrado