Título: Os partidos e o pleito
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 04/06/2006, O GLOBO, p. 2

A eleição deste ano é importantíssima para a depuração do quadro partidário brasileiro através da vigência da cláusula de barreira. Sete ou oito partidos médios devem se consolidar. Já tendo vivido seu momento de expansão após a redemocratização, o quadro partidário passará agora por uma contração, facilitando a aprovação de reformas destinadas a aprimorar o sistema político e melhorar a qualidade da nossa democracia.

Mesmo sem reforma alguma, pois não parecem os agentes políticos interessados nisso, um quadro partidário mais sintético favorece a governabilidade, a formação de coalizões mais funcionais e menos fisiológicas. Enfim, com menos partidos os presidentes terão mais facilidades para construir a maioria, ainda que seus partidos sozinhos não a conquistem.

É de olho na sobrevivência e no lugar que poderão ocupar nesse futuro que os partidos estão fazendo seus jogos para a eleição deste ano. Dos 19 partidos que hoje têm representação na Câmara, apenas quatro ¿ PMDB, PFL, PSDB e PT ¿ não estão ameaçados pela exigência de alcançarem 5% dos votos nacionais, sendo que 2% concentrados em nove estados. Cinco partidos ¿ PSB, PDT, PTB, PP e PL ¿ podem ou não passar pelo funil. O deputado Alexandre Cardoso (PSB), estudioso da questão, acredita que só quatro passarão. Os demais partidos, incluindo aqueles de marca forte como o PCdoB, o PPS e o PV, dificilmente vão cumprir a exigência. Serão obrigados a se fundir com outros para sobreviver. Vejamos um pouco do jogo de cada, com seus acertos e equívocos aparentes.

No bloco dos 4 grandes:

PMDB ¿- Seu desafio não é eleitoral mas político. É chegar a uma unidade interna que lhe dê projeto nacional. Candidato a presidente este ano não terá. Se pudesse se coligar oficialmente com o PT ou com o PSDB, encurtaria o caminho mas isso é improvável. Terá ainda a chance de se tornar parceiro oficial na coalizão do novo governo, seja de quem for. É provável que faça a maior bancada, o que lhe daria a presidência da Câmara.

PSDB ¿ Seu projeto, voltar ao Planalto. Sua necessidade imperiosa, preservar o governo de São Paulo, que controla há 12 anos; o de Minas, que Aécio Neves só perde para si mesmo, e se firmar como uma opção no Rio. Para governar ou para fazer oposição, precisa ampliar sua bancada na Câmara, que encolheu em 2002.

PFL ¿ A aliança com o PSDB pode ajudá-lo a vencer o risco de ter sua banca encolhida, perdendo posição na Câmara. Ao herdar a prefeitura e o governo paulistas do PSDB, tem boa chance de crescer e se firmar em São Paulo. Preservar a Bahia é vital para o carlismo. Cesar Maia testará sua força no Rio apoiando a candidata do PPS, Denise Frossard.

PT ¿ Óbvio: reeleger Lula e recuperar a imagem ferida pelos escândalos e o tombo ético são suas prioridades. Eleger a maior bancada, como em 2002, será difícil mas já não se trabalha com a hipótese de um grande encolhimento. A força de Lula e o desempenho do governo ajudarão. O eleitorado é que se desloca, agora em direção aos mais pobres e aos de menor instrução.

No bloco dos partidos médios com chances de sobrevivência:

PSB ¿ Para cumprir a cláusula de barreira, os socialistas resistiram muito à hipótese de Ciro Gomes vir a ser vice de Lula. Isso descartado, calculam que, mesmo que Ciro tenha 300 mil votos no Ceará, ainda precisarão de outros 400 mil. ¿Precisamos desesperadamente de bons candidatos a deputado federal¿, diz o prefeito de Manaus, Serafim Corrêa. A aliança com o PT ajuda em alguns estados, mas atrapalha em outros.

PDT¿ Vive um momento delicadíssimo. Frustrada a aliança com o PPS, que vai apoiar Alckmin, o PDT voltou a conversar com o PT, mas deve manter a candidatura presidencial de Cristovam Buarque. Os votos para presidente não contam para a cláusula, mas a candidatura pode ajudar, embora atrapalhe algumas alianças. Já no primeiro turno, boa parte dos prefeitos apoiará Lula, caminho mais provável do PDT no segundo turno.

PP ¿ O fim do malufismo e o envolvimento de muitos pepistas com o mensalão criam uma situação eleitoral muito adversa. Mas tanto o PSDB como o PT querem seu apoio nos estados. O PP exige em troca coligação na eleição proporcional, para garantir a eleição de deputados. O PP ainda tem força no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, com os Amin, e no Rio, com Dornelles. Pode salvar-se nos grotões.

PTB ¿ O partido de Roberto Jefferson foi muito ferido, mas também ainda é cobiçado. Tem boas chances de sobrevivência. Informalmente, o partido apoiará Lula já no primeiro turno. Tem um ministro forte, Walfrido dos Mares Guia.

PL ¿ Muito difícil a situação do partido que deu o vice de Lula em 2002. Fora da coligação com o PT, marcado pelo escândalo, perdeu ainda puxadores de voto como Carlos Rodrigues, o ex-bispo, agora atolado na máfia das ambulâncias. No grupo dos médios, é candidato a ser barrado.

OS OUTROS ¿ Todos parecem fadados a não cumprir a cláusula, embora o PCdoB, com a ajuda do PT, tenha uma remota chance.