Título: Críticas, goiabada e até pedido de vestido
Autor: Luiza Damé
Fonte: O Globo, 04/06/2006, O País, p. 10

Lula recebe 3 mil cartas mensais

BRASÍLIA. No auge da crise política, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva via a popularidade despencando e perdeu seu principal auxiliar no PT e no governo, o deputado cassado José Dirceu, o apoio chegava pelos Correios ¿ estopim das denúncias de corrupção envolvendo petistas e aliados. Mas não só apoio. Eleitores de todo o país usam as cartas para criticar o ¿mar de lama e corrupção¿ no governo, cobrar providências, manifestar apoio e fazer pedidos.

Nos primeiros meses de governo, em 2002, eram 9 mil cartas em média, por mês, endereçadas ao presidente Lula. Agora são 3 mil ¿ número ainda elevado no histórico recente da Presidência. No último ano do segundo mandato, o tucano Fernando Henrique Cardoso recebia 1.200 cartas mensais.

De Salvador, um eleitor escreve para ¿meu caro amigo Lula¿ e desabafa que o governo se transformou num ¿mar de denúncias¿ e cobra as mudanças que levaram à vitória do PT em 2002: ¿Coloque-se também no lugar dos milhões de brasileiros que querem acabar com esse mar de lama, que confiaram esse mandato a você e que agora, perplexos, assistem diariamente aos depoimentos nas comissões parlamentares, às denúncias de compra de apoio político, de malas abarrotadas que irrigam as veias da corrupção¿.

O eleitor afasta do presidente a responsabilidade pela corrupção e termina dizendo que se o presidente perder o cargo, seria até melhor para ele, eleitor: "Voltaríamos a bater aquele nosso papo gosto, fazer nossa farrinha". Essa carta mereceu resposta assinada pelo próprio Lula. Depois de agradecer o apoio, o presidente afirma que o governo vai se manter firme na luta contra a corrupção.

Além das críticas e manifestações de apoio, chega de tudo no protocolo do Planalto: pedidos de bolsa de estudos, de emprego, de casa e até de vestido de noiva. De Dom Pedrito, na fronteira do Rio Grande com o Uruguai, uma dona-de-casa revela não ter votado em Lula, mas diz que sonhou com mudanças quando ele assumiu. Um advogado de Bauru (SP) reconhece o esforço do governo Lula em favor dos pobres, mas afirma que o presidente está mais preocupado com os problemas sociais do Haiti e dos países africanos do que com os do Brasil.

Toda correspondência pessoal de Lula é catalogada e respondida pela equipe da Diretoria de Documentação Histórica, vinculada ao gabinete de Lula. No final do mandato, o acervo fica com o presidente, mediante o compromisso de abri-lo ao público. É comum o envio de presentes como chocolate e goiabada cascão, além de fotos e artesanato. Tudo é catalogado e respondido. Parte dos bonés e das camisetas que o presidente ganha em audiências no Planalto ou nas viagens pelo Brasil está catalogado e guardado no depósito da Documentação Histórica. Cerca de 470 metros de depósito estão praticamente lotados.