Título: SUZANE E IRMÃOS CRAVINHOS TROCARÃO ACUSAÇÕES NO JÚRI
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 04/06/2006, O País, p. 15

Comparsas dirão que jovem tramou a morte dos pais

SÃO PAULO. Começa amanhã em São Paulo um dos julgamentos mais esperados dos últimos anos. No banco dos réus, a ex-estudante de Direito Suzane von Richthofen e os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos, acusados de terem planejado e executado as mortes do casal Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2003, sentarão lado a lado para escutar o que seus advogados já definiram como estratégia para a defesa. Enquanto os advogados de Suzane apostam na tese de que ela foi coagida ¿em nome do amor¿ a Daniel, seu namorado na época do crime, a defesa dos irmãos Cravinhos irá mostrar aos jurados que Suzane foi a mentora. A promotoria, por sua vez, sustenta que Suzane e os Cravinhos planejaram juntos.

¿ Tanto a Suzane quanto o Daniel e o Cristian Cravinhos sabiam muito bem o que queriam e o que pretendiam ganhar com a morte dos pais. E não era só liberdade, era tomar conta do patrimônio do casal ¿ argumenta o promotor Roberto Tardelli, responsável pelo caso.

A promotoria pedirá a pena máxima para os três: 30 anos pela morte de Manfred e mais 30 pela de Marísia.

Os advogados de Suzane e dos irmãos Cravinhos, no entanto, vão tentar desfazer o clima de conspiração que será imposto pela acusação.

¿ Naquele instante, ela não tinha outra forma de agir. Havia uma coação moral e o lado emocional a levou a ser conivente com o crime. Era o seu primeiro amor. Ela perdeu a virgindade com o Daniel, que a levou para o sexo e para as drogas ¿ diz Mário Sérgio de Oliveira, criminalista que defende Suzane há pouco mais de dois meses.

¿Ela admirava tudo o que o namorado fazia"

A idéia da defesa é mostrar que Suzane foi envolvida por Daniel já que ela não teria boa relação com os pais.

¿ Ela era obediente ao Daniel. Ao mesmo tempo em que ela reprovava as atitudes dos pais, ela admirava tudo o que o namorado fazia ¿ diz o advogado, que reunirá entre as testemunhas de defesa uma amiga de faculdade de Suzane. Segundo ele, ela acompanhou a relação de dependência de Suzane com Daniel.

Aos sete jurados que serão definidos após acerto entre as duas defesas, os advogados de Suzane irão expor a idéia de que Suzane só aceitou planejar o crime porque não queria perder o namorado. Para Mário Sérgio, essa era uma das exigências de Daniel para continuar com o namoro. Suzane e Daniel estiveram no enterro de Manfred e Marísia. Chorando muito, os dois chegaram a apresentar aos policiais uma nota fiscal comprovando que estiveram num motel na hora do crime. Diante das suspeitas de que teriam participado do assassinato, Suzane e Daniel confessaram a autoria e ainda entregaram Cristian Cravinhos, que recebeu dinheiro e chegou a comprar uma moto um dia depois do crime.

O advogado dos irmãos Cravinhos, Geraldo Jabour, tem evitado dar entrevistas. Sabe-se, no entanto, que ele irá bater na tecla de que a idéia de matar o casal partiu de Suzane. Em defesa dos Cravinhos, Jabour pretende investir no relato de que Suzane sempre reclamou dos pais e se mostrava insatisfeita com a censura em relação ao seu namoro. Os dois costumavam viajar escondidos dos pais dela. Apenas os pais de Daniel permitiam a relação.

Para jogar um peso maior da responsabilidade sobre Suzane, a defesa de Cristian e Daniel Cravinhos ainda vai lembrar que teria partido dela a idéia de dormir num motel para despistar a polícia. A promotoria, por sua vez, tem um trunfo para apresentar ao longo do depoimento. Completamente reservado desde a época do crime, Andreas von Richthofen, irmão de Suzane que tinha 13 anos quando os pais foram mortos, deve se apresentar como a principal testemunha do promotor Roberto Tardelli, responsável pelo caso.

O GLOBO apurou que o rapaz deve depor contra a irmã, já que ele não a teria perdoado. No dia do crime, Suzane e Daniel deixaram o garoto numa lan-house e só o pegaram depois de cometer o crime e passar no motel.

Além disso, Andreas trava na Justiça batalha para evitar que a irmã tenha acesso à herança. Foi por conta disso que a promotoria pediu novamente a prisão de Suzane. Ele estaria correndo perigo.

¿ Por muito menos, é bom lembrar que ela matou os pais ¿ diz Tardelli.

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