Título: PIADAS E GUERRA DE EGOS
Autor: Flávio Freire e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 06/06/2006, O País, p. 3

Advogados de Suzane promovem balbúrdia no tribunal

SÃO PAULO. Gargalhadas, piadas, torcida organizada e até dedo em riste para o juiz. Se um desavisado entrasse ontem no 1º Tribunal do Júri de São Paulo, dificilmente acreditaria que o motivo daquela balbúrdia fosse o julgamento de um dos crimes mais bárbaros do Brasil nas últimas décadas.

¿ O juiz não avisou antes da sessão que a platéia não poderia se manifestar. Virou bagunça ¿ disse a presidente da Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo (Acrimesp), Vitória Nogueira.

A Acrimesp tentou conseguir uma liberação junto ao Supremo Tribunal Federal para que o julgamento de Suzane von Richthofen e dos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos fosse exibido ao vivo pela TV. Mas a ausência das câmeras não impediu que o julgamento tivesse ares de espetáculo.

A confusão começou quando o juiz Alberto Anderson Júnior negou o pedido de adiamento feito pelos advogados de Suzane. Eles alegavam a ausência da testemunha Cláudia Songe, amiga da mãe de Suzane.

¿ Não faça isso ¿ disse o advogado Mauro Otávio Nacif, defensor de Suzane, com o dedo na cara do juiz¿ O senhor está me humilhando ¿ disse o advogado, que chamou o juiz de ¿arbitrário e intransigente¿.

A platéia, formada principalmente por estudantes de direito, muitos ex-colegas de Suzane na PUC, se comportavam como uma torcida de futebol, claramente contra a ré, e soltou um ¿oh!¿ de espanto.

¿ A testemunha já foi ouvida e já disse tudo o que queria dizer. Podemos tirar xerox dos autos e distribuir para os jurados ¿ rebateu o promotor Roberto Tardelli, ganhando aplausos da torcida/platéia.

O juiz anunciou que instalaria a sessão.

¿ Não vai instalar, não. Eu tiro a beca, vou embora e acaba o júri ¿ ameaçou Nacif, novamente com o dedo em riste.

¿ Eu já imaginava ¿ respondeu, sarcástico, o juiz.

O público caiu na gargalhada. Antes, um dos integrantes da platéia foi detido quando fotografou o plenário com o telefone celular. Ele queria vender a imagem para jornais e foi liberado após apagar a foto.

Alberto Toron, assessor da promotoria, resumiu:

¿ Isto aqui parece um mercado do peixe.

A confusão aumentou quando o juiz propôs um acordo para que o júri fosse adiado para hoje. Nacif, que sempre lembrava ter se formado na turma de 1969, concordou, mas seu colega de defesa, Mário Sérgio de Oliveira, discordou, e os dois discutiram. O ex-tutor de Suzane, Denivaldo Barni, subiu no palco, para acalmar os advogados.

¿Teve uma tensão ¿ admitiu a advogada Eleonora Nacif, integrante da defesa.

Oliveira tentou desqualificar o advogado Mauro Nacif, mas foi interpelado pelo juiz.

¿ Não tente denegrir o seu colega. O doutor Nacif é da turma de 1969 ¿ provocou o juiz, levando a torcida às gargalhadas.

O clima de disputa pessoal ficou mais evidente quando Nacif foi se despedir do promotor Tardelli, que fazia uso da palavra e recusou o cumprimento.

Nacif provocou mais risadas.

¿ Pronto, excelência, já expliquei tudo para a minha cliente. Tchau, Toron.

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