Título: EFEITO¿ EVO MORALES PROVOCA REAJUSTES NO GLP
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 06/06/2006, Economia, p. 23

Distribuidoras aproveitam demanda aquecida e aumentam preço em 8%. Ainda não houve repasse para consumidor

Apesar de o governo Evo Morales ainda não ter conseguido aumentar os preços de venda do gás natural boliviano para o Brasil, já provocou alta de 8% nos preços do GLP ¿ o gás de botijão ou gás de cozinha ¿ vendido pelas distribuidoras aos revendedores. O GLP, extraído do petróleo, não tem qualquer relação com o gás natural fornecido pela Bolívia. Mas o temor da falta de gás aumentou a demanda do consumidor por GLP em 15% em maio, o que fez com que as distribuidoras aproveitassem para promover aumentos de preços, revelou ontem ao GLOBO a Federação Nacional dos Revendedores de GLP (Fergás). Os revendedores ainda não falam em repasse para o consumidor, mas se os reajustes forem mantidos o preço final poderá subir.

O presidente da Fergás, Álvaro Chagas, disse que nos últimos 30 dias as distribuidoras fizeram um reajuste de cerca de R$2 por botijão de 13 quilos em diversos estados, como Rio, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Brasília. O botijão, que era vendido em média entre R$23 e R$24, agora está custando entre R$25 e R$ 26 para a revenda.

Empresas tentam repassar aumentos de custos

O presidente do Sindicato dos Revendedores do Estado do Rio de Janeiro, Crisvaldo Souza da Silva, confirmou que nos últimos 30 dias as distribuidoras no Rio já aumentaram em R$2 os preços de venda dos botijões de gás. Segundo Crisvaldo, somente a partir de 1º de junho o aumento foi de R$1 no estado.

¿ É um cartel que acaba com o revendedor correto ¿ reclama Crisvaldo.

¿ As distribuidoras vêm aumentando seus preços sistematicamente, sem explicar as razões. Fica difícil para a revenda repassar para os consumidores, porque não tem explicação ¿ destacou Chagas.

O executivo lembra que desde dezembro de 2002 a Petrobras não aumenta seus preços de venda, e também não tem havido reajustes nos tributos.

O presidente do Sindicato Nacional das Distribuidoras de GLP (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello, explicou que o mercado é livre e cada companhia tem sua política de preços. Mas ele admitiu que existe uma pressão para recompor as margens tanto por parte das distribuidoras como pelos revendedores. Embora nem a matéria-prima nem os impostos tenham sido reajustados, diz Bandeira de Mello, outros custos das companhias subiram nesse período, sem serem repassados para os preços:

¿ Há uma tentativa de se recuperar as margens, que estão muito comprimidas na distribuição e na revenda.

Segundo dados do Sindigás, no primeiro trimestre do ano o consumo do GLP caiu 1%. Já em maio foi verificado o aumento de 15% no consumo sobre o mesmo mês de 2005, com um total de 455 mil toneladas de GLP vendido em botijões de 13 quilos (para residências).

Os executivos do setor acreditam que esse reajuste se deve basicamente à crise do Brasil com a Bolívia ¿ o que fez muitas pessoas comprarem mais GLP com medo do desabastecimento ¿ e ao maior consumo por causa do frio em algumas regiões do país.

¿ Com a queda do consumo era difícil aumentar os preços. Agora, com o aumento ocorrido em maio, eles se aproveitaram para aumentar suas margens. O prejudicado é o revendedor, que não tem como repassar para os consumidores os aumentos ¿ afirmou um revendedor.

A SHV Gas Brasil, dona das marcas Minasgás e Supergasbras, líderes no mercado de distribuição no Estado do Rio, garantiu em uma nota que não houve reajuste no preço do GLP em junho. Segundo a empresa, o fator que pode ter alterado o preço do gás de cozinha foi o corte de descontos concedidos a alguns revendedores da região.

No período de calor, segundo a SHV, houve queda na demanda de gás, o que levou a companhia a conceder descontos a seus revendedores no Rio. Com a proximidade do inverno, esses descontos foram cortados, o que pode ter ocasionado impacto no valor do GLP, diz a empresa.

A companhia esclareceu ainda que a concessão de descontos é uma estratégia individual, com base nas condições de mercado, com a situação de cada revendedor.

www.oglobo.com.br/petroleo