Título: ESPECIALISTAS CONDENAM INVASÃO
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 07/06/2006, O País, p. 8

SÃO PAULO e RIO. O professor de ética e filosofia política da Unicamp Roberto Romano responsabilizou as autoridades pelo quebra-quebra. Para ele, a reação dos sem-terra mostra desrespeito à lei incentivado pelo PT e pelo governo federal.

¿ O que mais ressalta é o clima que se avista de respeito à lei que tem no governo e no PT um grande incentivo.

Para Romano, a ação do MLST é perigosa para os próprios movimentos sociais, já que as reivindicações ficam para segundo plano depois que optam por selvageria.

Nesta mesma linha, Fernando Abrúcio, professor de política da Fundação Getúlio Vargas, reprovou a atitude dos sem-terra e lembrou que é preciso responsabilizar criminalmente quem estiver à frente de manifestações desse tipo. Abrúcio não concorda, no entanto, com a visão de Roberto Romano de que os movimentos sociais passaram a agir com mais agressividade incentivados pelo PT ou pelo atual governo.

¿ Já fizeram isso no governo anterior, é só lembrar que os sem-terra promoveram cárcere privado no Banco do Brasil na gestão do Fernando Henrique. O que acontece é que esses grupos não são democráticos. Não aceitam a luta partidária ou eleitoral porque não aceitam a democracia sob a bandeira de que não há igualdade.

O pesquisador e professor Nelson Giordano Delgado, do Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, disse que, enquanto o modelo agrícola não mudar, continuará produzindo ações radicais. Embora considere o trabalho escravo uma realidade a ser enfrentada, Nelson condenou a invasão da Câmara:

¿ Foi lamentável. Um ato violento não é algo que se possa apoiar. O trabalho escravo é uma vergonha para as elites e para o governo. Mas não justifica o que ocorreu em Brasília.

Nelson criticou, contudo, o modelo econômico baseado no agronegócio para a exportação, que considera excludente do ponto de vista social. Ele lembrou que, enquanto o governo investiu R$50 bilhões no agronegócio, a agricultura familiar contou com apenas R$10 bilhões: