Título: Comandante da invasão foi recebido por Lula
Autor: Letícia Lins
Fonte: O Globo, 07/06/2006, O País, p. 8

Bruno Maranhão, que ajudou a fundar o PT, acompanhou o presidente em uma visita recente a Pernambuco

RECIFE. O coordenador nacional do MLST, Bruno Maranhão, é secretário nacional de Movimentos Populares do PT e integrante da executiva nacional do partido, que inclusive ajudou a fundar. É conhecido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por quem foi recebido duas vezes em audiência oficial. Na primeira vez, Lula recebeu dirigentes do MLST em junho de 2004. Na segunda, Maranhão foi recebido em novembro de 2005.

Em junho deste ano, na visita do presidente a Recife, Bruno Maranhão esteve sempre ao lado de Lula em evento promovido pela Confederação Nacional de Indústria (CNI). De terno escuro, Maranhão articulou um encontro do presidente com dez militantes do MLST, pois o movimento fazia um protesto em defesa da reforma agrária e pretendia invadir o salão de exposições do Centro de Convenções de Pernambuco.

¿ A confusão só não foi maior porque falei com o presidente ¿ disse Maranhão, na época. Os lavradores temiam ser despejados por causa da ampliação do porto de Suape.

Filho de uma família de usineiros politicamente conservadora, Maranhão, de 65 anos, é formado em engenharia e foi militante do PCB e do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Afirma ter participado da luta armada em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Em 1971, fugiu com identidade falsa para a Europa. Em 1979, retornou após a promulgação da Lei da Anistia. Em 1982, disputou o senado pelo PT de Pernambuco e, em 1985, a prefeitura do Recife. Foi derrotado nas duas ocasiões e hoje diz não ter vontade de disputar mandatos eletivos.

Usina da família está quase falida

Maranhão cresceu na Zona da Mata pernambucana, onde se concentra a agroindústria açucareira do estado. Entre as propostas do movimento que lidera está a transformação de ¿empresas capitalistas falidas em empresas comunitárias geridas pelos trabalhadores¿.

A usina de sua família, a Estreliana, poderia ser uma das tranformadas. Enfrentando problemas financeiros há mais de uma década, ela tem engenhos ocupados pelo MST. Alguns já foram até transformados em assentamentos. Atualmente a indústria tenta na Justiça derrubar a imissão de posse a favor do Incra de dois outros de seus engenhos: o Pereira Grande e o João Gomes. Ambos foram desapropriados pelo governo e são reivindicados pelo MST.

Não há registro de acampamentos do MLST em terras da Estreliana. A usina já teve sua sede invadida e destruída pelo MST e, no ano passado, parte de seus canaviais foi incendiada.

Apesar de ter sido criado na opulência de uma família de usineiros, Maranhão afirma que decidiu contrariar a vocação da família ao ver a miséria em que viviam os trabalhadores dos engenhos dos seus pais. Ele passou sua infância no interior, como ¿um menino de engenho qualquer¿, como costuma lembrar. Brincava de caçar passarinhos e de tomar banho de rio com os filhos dos cortadores de cana. Deixou o engenho para fazer o curso superior em Recife. Diz que quando voltou ao interior teve uma decepção terrível:

¿ Meus companheiros de infância estavam acabados, desdentados, a pele enrugada, eram uns trapos.

Passou, então, a militar nos partidos de esquerda e rejeitou o destino que lhe fora reservado pelo pai: dirigir uma destilaria da família, a Liberdade. Abriu o jogo e confessou seu credo político:

¿ Disse a meu pai que jamais poderia gerenciar uma usina. Confessei que era comunista e que dirigir uma usina era a mesma coisa que me violentar ¿ lembra, referindo-se à atividade econômica que durante séculos transformou-se em símbolo de concentração de terra e renda.

Usineiro, o empresário Gustavo Maranhão reconhece as divergências com o irmão:

¿ Política e religião não se discutem, cada um respeita a opinião do outro. As divergências políticas com Bruno são imensas, mas isso nunca trouxe desentendimento familiar.