Título: ADVERSÁRIOS CRITICAM ATITUDE DE FROSSARD
Autor: Cláudia Lamego
Fonte: O Globo, 07/06/2006, O País, p. 12

Pré-candidata ao governo do Rio reafirma que não se sente segura para entrar em favelas; governo do estado reage

Adversários da deputada Denise Frossard, pré-candidata ao governo do estado pela aliança PPS-PFL-PV, criticaram sua afirmação de que não vai entrar em favelas durante a campanha eleitoral no estado. Ontem ela reafirmou, em discurso na Câmara, que não se sente segura para visitar as comunidades e acusou os políticos do estado de fazerem pacto com o crime para entrar nas favelas dominadas pelo tráfico de drogas.

¿ Não é segredo para a população que muitos políticos em campanha, na cidade do Rio, se dobram ao crime quando tentam visitar as comunidades onde as gangues estão presentes. Eu reafirmo que não há segurança para a população e muito menos para quem tente avançar no território onde o crime está presente ¿ disse Frossard.

¿Nunca pedi licença a marginal¿, diz Cabral

Sem citar o nome do senador Sérgio Cabral (PMDB-RJ), também pré-candidato ao governo, a deputada insinuou que ele é um dos que poderá visitar as favelas porque tem o apoio do governo do estado.

¿ Ele recebe e receberá do governo do estado, que patrocina a sua candidatura, as garantias que, por exemplo, recebeu o deputado estadual do PMDB do Rio, Chiquinho da Mangueira, quando secretário de Esporte e Lazer do governo ¿ disse, lembrando da denúncia do coronel Erir Ribeiro, do 4º Batalhão de Polícia Militar, de que o então secretário do governo Rosinha lhe havia pedido uma trégua no combate ao tráfico de drogas no Morro da Mangueira.

Em resposta, Sérgio Cabral disse que a deputada precisa pensar antes de expressar suas opiniões e que ela trata a favela como gueto porque tem preconceito. O senador disse que sempre visitou favelas, mas nunca fez pacto com marginais:

¿ Nunca pedi licença a marginal para entrar em comunidade alguma. As pessoas de bem não devem temer a ação política porque a maioria dos moradores dessas comunidades é de trabalhadores. E eles têm o direito de ouvir as nossas propostas e debater com os candidatos. Os candidatos têm obrigação de conhecer essa realidade.

Para o deputado Eduardo Paes (PSDB), que ontem fez corpo-a-corpo na Vila do João, comunidade do Complexo da Maré ¿ uma das mais violentas do Rio, na região conhecida como a Faixa de Gaza ¿ a campanha eleitoral expõe a alma das pessoas. E Frossard, segundo ele, já demonstrou que é preconceituosa e elitista quando escreveu um parecer contra os deficientes físicos.

¿ Num ato falho, ela mostra o que é a sua alma. Ela tem raiva de pobre e dificuldade de compreender a realidade do estado. A juíza demonstrou um profundo desrespeito pelas pessoas que moram nas favelas e que são as grandes vítimas. Como autoridades, temos que dar o exemplo de destemor. Alguém que queira ser governador deste estado não pode ter medo de entrar em favela ¿ disse Paes.

¿Isso é um caso de preconceito¿, diz secretário

No relatório de um projeto de lei, ainda não votado pela Câmara, que estabelece como crime a discriminação a doentes e portadores de deficiência, a juíza escreveu: ¿A deformidade física fere o senso estético do ser humano. A exposição em público de chagas e aleijões produz asco no espírito dos outros, uma rejeição natural ao que é disforme e repugnante, ainda que o suporte seja uma criatura humana. (...) Ninguém pode ser obrigado a suportar a doença e a deformidade alheia.¿

O secretário estadual de Direitos Humanos, Jorge da Silva, que respondeu às declarações de Frossard em nome do governo, disse que a juíza tem ¿uma questão estética na visão de mundo¿:

¿ Nesses lugares há uma grande concentração de negros e nordestinos pobres. Isso é um caso de preconceito. A questão estética é uma preocupação reiterada dela.

Perguntado se estava se referindo ao parecer sobre a lei dos deficientes físicos, o secretário apenas respondeu:

¿ Essa é a sua conclusão.

Por meio de sua assessoria, o secretário estadual de Segurança, Roberto Precioso Júnior, afirmou que a política adotada no Rio é a de segurança para todos. Segundo ele, a polícia do Rio entra em qualquer lugar e em qualquer hora. Precioso disse ainda que a política de segurança adotada nos últimos três anos, e que resultou em 60 mil prisões e na apreensão de 45 mil armas com criminosos, não sofrerá qualquer influência por conta de discursos de palanque.