Título: SP TEVE 400 MORTOS A BALA EM NOVE DIAS, DIZ CRM
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 07/06/2006, O País, p. 13

Número inclui crimes comuns, mas supera muito as 164 mortes confirmadas pelo governo; crescem suspeitas de matança

SÃO PAULO. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo informou ontem que aproximadamente 400 pessoas morreram por disparo de armas de fogo entre 12 e 20 de maio, período dos ataques de uma facção criminosa a agentes públicos e da reação da polícia contra suspeitos. O número de mortos a bala inclui não só os casos relacionados diretamente aos ataques, mas também crimes comuns, como brigas. Mesmo assim, é muito superior ao número de mortos na onda de violência anunciado pela Secretaria de Segurança Pública: 164 (122 civis e 42 agentes públicos).

Segundo entidades de defesa dos direitos humanos, a revelação levanta suspeita sobre a transparência da Secretaria de Segurança, que, até ontem, não havia enviado 12 dos 164 laudos requeridos pelo Ministério Público. O prazo de 72 horas dado para entrega dos laudos expirou há seis dias.

O Conselho chegou ao número com base em levantamento feito por médicos nos 23 Institutos Médico-Legais de São Paulo. A entidade vai apresentar um número preciso ao Ministério Público e, no dia 20, um relatório técnico aprofundado. ¿ É uma surpresa. Esperávamos um número 30% maior, mas não 400 ¿ disse o presidente do Cremesp, Desiré Callegari.

Segundo o primeiro-secretário do Cremesp, Henrique Carlos Gonçalves, a maioria das vítimas morreu com tiros na cabeça e no tórax. Integrantes dos conselhos nacional e estadual de defesa da pessoa levantaram suspeitas sobre a transparência da secretaria.

¿ É preocupante e pode levar à conclusão de que houve uma matança. O número é muito maior do que o divulgado pela Secretaria de Segurança e denota a tentativa de acobertar informações ¿ disse o advogado Ariel de Castro Alves, integrante do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa (Condepe).

¿`Pode levar à conclusão de que houve matança¿

Segundo o jurista Dalmo de Abreu Dallari, membro da comissão criada pelo Conselho Nacional de Defesa da Pessoa Humana para acompanhar as apurações, o secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho cometeu falha grave ao impedir a divulgação dos laudos.

¿ Como cidadão residente em São Paulo isso me preocupa. Não estou satisfeito. A secretaria dificultou a divulgação de dados para o Ministério Público. O secretário dificulta a revelação de dados¿ disse Dallari.

O procurador-geral de Justiça do estado, Rodrigo Pinho, recebeu integrantes do Condepe e do CDDPH e disse que pedirá os dados que faltam.