Título: PARA ANALISTAS, O FED MUDOU DE TOM
Autor: Diogo de Hollanda e Liane Thedim
Fonte: O Globo, 07/06/2006, Economia, p. 25

Especialistas dizem que objetivo de rigidez contra inflação é manter credibilidade

WASHINGTON e NOVA YORK. Em seu intuito de provar que está firme no combate à inflação, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, pode ter acabado com as esperanças de pausa nas altas da taxa básica de juros, pelo menos até que os aumentos de preços percam fôlego. Ontem, os mercados globais continuaram a sentir os efeitos do discurso de Bernanke segunda-feira, em Washington, quando ele afirmou que a alta do núcleo da inflação é indesejável e que o Fed vai assegurar que ela ¿não se sustente¿.

Isso anulou os comentários feitos por ele em abril, que deixaram o mercado à espera de uma pausa nas elevações dos juros e provocaram questionamentos sobre seu compromisso com a contenção dos preços. Sua ênfase na inflação surpreendeu os operadores de mercado, que elevaram suas apostas numa nova alta de juros na próxima reunião do Fed, em 28 e 29 deste mês. Em relatório, o JP Morgan Chase disse ontem esperar uma alta de 0,25 ponto percentual, para 5,25% ao ano.

¿ Mesmo após admitir que a economia está desacelerando, ele adota uma posição muito rígida para frear as altas de preços ¿ disse Stephen Stanley, economista-chefe do banco RBS Greenwich Capital. ¿ Soa como alguém que precisa provar sua determinação de combater a inflação.

David Jones, presidente da consultoria DMJ Advisors e autor de vários livros sobre o Fed, disse que Bernanke errou em seu depoimento no Congresso americano em abril, ao prenunciar uma pausa nas elevações dos juros, mesmo diante da alta dos preços das commodities, com o petróleo se aproximando de um nível recorde.

Esses comentários, menos de três meses após assumir o Fed, levaram alguns operadores a se perguntarem se Bernanke poria em risco a credibilidade acumulada pela instituição nas gestões de Alan Greenspan e Paul Volcker.

¿ O Fed enfrenta uma questão de credibilidade ¿ disse Lyle Gramley, ex-diretor do Fed e hoje consultor econômico do Stanford Washington Group. ¿ As expectativas de inflação começaram a subir. Bernanke quer ter certeza de que os ganhos de credibilidade anteriores não serão desperdiçados.

Por isso, os analistas não esperam tranqüilidade:

¿ Não acho que seja o fim do nervosismo. Deve haver novas quedas ¿ disse ao site CNNMoney Ralph Acampora, analista do Knight Capital.

(*) Com agências internacionais