Título: `PINGÜINS¿ ENTRAM NO CONSELHO PARA MUDAR EDUCAÇÃO
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Fonte: O Globo, 07/06/2006, O Mundo, p. 30

Estudantes chilenos fazem acordo com Senado mas exigem participação majoritária

SANTIAGO

Após uma paralisação que contou com a adesão de um milhão de alunos, representantes do movimento estudantil conseguiram na madrugada de ontem um acordo com o Senado chileno para participarem do Conselho Assessor Presidencial, cuja formação será anunciada hoje pela presidente Michelle Bachelet e que discutirá a reforma do sistema educacional. O governo apoiou o acordo, que pode pôr fim à chamada ¿revolução dos pingüins¿, e enviou ontem ao Congresso um projeto de reforma constitucional para garantir ¿o direito à educação de qualidade a todos¿. Mas para acabar com a crise falta decidir o nível de participação na comissão. Secundaristas exigem participação majoritária.

Maximiliano Mellado, um dos porta-vozes da Assembléia Coordenadora dos Estudantes Secundaristas (Aces), afirmou que o movimento exige uma proporção de ¿50% mais um¿. Segundo Karina Delfino, outra porta-voz dos secundaristas, essa cota seria integrada não apenas por alunos, mas também por representantes da sociedade por eles escolhidos.

¿ A intenção da Aces é que essa representação inclua as universidades, professores e outros setores relacionados à educação ¿ disse Karina. ¿ Disso não vamos abrir mão.

Ontem à noite, os secundaristas estavam reunidos em assembléia para votar os termos do acordo e decidir se suspendiam a paralisação.

Bachelet pede apoio da oposição para projeto

O acordo foi resultado de um encontro entre o presidente da Comissão de Educação do Senado, Mariano Ruiz-Esquide, com os alunos, representados por Karina, María Jesús Sanhueza e Juan Herrera. Entre os assuntos que a comissão vai discutir estão como assegurar o direito à educação ¿ o que passa por uma reforma constitucional ¿, mudanças na Lei Orgânica Constitucional de Ensino (Loce), além de fazer uma avaliação do processo de municipalização da educação, ocorrida nos anos 80. Os estudantes exigem ainda gratuidade no transporte coletivo e nas provas de acesso às universidades.

¿ O mais importante é que o governo está disponível para que os jovens secundaristas participem do conselho ¿ afirmou o senador.

A criação do conselho será formalizada hoje por Bachelet, antes de embarcar para Washington. O Palácio La Moneda não informou se os estudantes farão parte da comissão ou em que proporção, afirmando apenas que a presidente nomearia os integrantes de acordo com ¿critérios que considere pertinentes¿ e que pretendia incluir ¿setores relacionados à educação¿.

Ontem, a presidente enviou ao Congresso um projeto para melhorar a qualidade do ensino e pediu o apoio da oposição para aprová-lo.

¿ No ano passado se perdeu no Congresso uma proposta semelhante porque não tivemos os votos da direita ¿ lamentou Bachelet.

O projeto deve permitir ao Estado ¿supervisionar os estabelecimentos de ensino, em particular os que recebem subvenção¿. O projeto permitiria ainda que pais entrem na justiça caso considerem que o ensino não é de qualidade.

Cerca de 30 estudantes ocuparam por duas horas o escritório da Unesco, em Santiago, para pressionar a organização a apoiar o movimento. Eles decidiram sair após conversar com a diretora da Unesco no Chile, Ana Luiza Machado.

¿ Fizemos a ocupação pacificamente e a terminamos da mesma maneira ¿ disse o líder estudantil Javier Ossandón.

Na véspera, um milhão de estudantes secundaristas e universitários aderiram à paralisação nacional ¿ descrita como a maior mobilização estudantil chilena em três décadas. Em Santiago houve confrontos com a polícia e saques a lojas, com os estudantes reclamando da infiltração de estranhos nos protestos. Foram presas 439 pessoas. Outras 40 ficaram feridas, incluindo 23 policiais. Cerca de 40 detidos serão processados por saque e vandalismo. Um uruguaio preso durante os distúrbios foi expulso do país. Segundo a prefeitura, os prejuízos acumulados em duas semanas chegam a US$250 milhões.

Com o El Mercurio, que faz parte do Grupo de Diários América (GDA)