Título: TOLEDO PEDE A PERUANOS TRÉGUA PARA GARCÍA
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 07/06/2006, O Mundo, p. 31

Presidente eleito diz que `declarará a paz¿ a Chávez e ameaça de novo dissolver Congresso, antecipando pleito

LIMA. Ciente do cenário de polarização política que predomina no país, o presidente do Peru, Alejandro Toledo, pediu à população que conceda uma trégua ao governo do presidente eleito, Alan Garcia, ¿para que demonstre para onde ele quer nos levar¿.

¿ Não façam com o próximo presidente o que fizeram comigo ¿ declarou Toledo, cujo governo foi duramente questionado desde o início de sua gestão em 2001.

O panorama político, de fato, é delicado. O movimento nacionalista liderado por Ollanta Humala, derrotado por García no segundo turno, venceu as eleições presidenciais em 14 dos 25 departamentos (estados) peruanos.

García admite ter sido ajudado por voto útil

Ontem, em entrevista à imprensa estrangeira, o presidente eleito disse que o Partido Aprista Peruano (Apra) é o partido do povo e que as primeiras medidas do novo governo serão destinadas aos setores mais humildes da população, em sua grande maioria, eleitores de Humala.

O líder aprista disse, ainda, que ¿declarará a paz¿ ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e insistiu na possibilidade de dissolver o Congresso e convocar novas eleições legislativas durante seu mandato.

O presidente eleito admitiu ontem ter vencido as eleições graças ao voto útil praticado por milhões de peruanos, mas negou que esses votos tenham sido ¿emprestados¿ por outros líderes políticos, como a ex-candidata à Presidência Lourdes Flores.

¿ Muitos votaram anti-Alan, mas muitos outros votaram a favor de Alan García ¿ afirmou o novo presidente do Peru, que assumirá o cargo no próximo dia 28 de julho.

García confirmou ter recebido um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e manifestou seu forte interesse em aprofundar a aliança do Peru com o Brasil.

¿ Sou um admirador do presidente Lula. Ele me convidou para ir ao Brasil antes da posse, mas não sei se terei tempo ¿ assegurou o presidente eleito, que expressou seu interesse em negociar um tratado de livre comércio com o Brasil. ¿ Estamos construindo estradas, temos gás, podemos oferecer eletricidade, enfim, a integração entre os dois países é fundamental.

O presidente eleito negou ter recebido o apoio do governo americano na campanha eleitoral e aproveitou para dar uma alfinetada em seu adversário.

¿ Humala perdeu pelo apoio de Chávez e eu me cuido muito disso. Temos orgulho de sermos independentes ¿ disse García.

Busca de um moderado para comandar economia

Ontem, o Congresso peruano recebeu o documento do Tratado de Livre Comércio assinado pelo governo Toledo com os Estados Unidos. Perguntado sobre qual será a posição de seu governo, o líder aprista disse que o texto do acordo será detalhadamente estudado.

¿ Nada será aprovado de um dia para o outro. Se o entendimento não nos convier, abandonaremos o acordo ¿ afirmou ele, assegurando que ¿este é apenas um primeiro acordo, que pode ser melhorado¿.

García lembrou que durante seu primeiro governo, entre 1985 e 1990, enfrentou a Casa Branca e suspendeu parte do pagamento da dívida externa peruana.

Em relação ao futuro Gabinete, García não quis antecipar nomes, mas disse que buscará um nome para o Ministério da Economia que ache um ponto de equilíbrio.

¿ Não quero um ministro estatizante que ponha em risco a estabilidade da moeda do país nem um globalizador que se ocupe apenas de ver o que compramos e o que vendemos, sem ajudar a criar uma agenda produtiva interna ¿ disse o presidente eleito.