Título: Invasão à Câmara foi premeditada pelo MLST
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 08/06/2006, O País, p. 8

Em fita de vídeo apreendida, líderes do movimento orientam 90 militantes sobre a forma de agir durante a ação

BRASÍLIA. A invasão e a depredação da Câmara dos Deputados por militantes do MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra) foi premeditada. A prova de que a ação começou a ser preparada pelo menos 15 dias antes está numa fita de vídeo gravada por um cinegrafista ligado ao MLST e apreendida pelo Departamento de Polícia da Câmara. Na fita, Antonio José Arruti Baqueiro, Joaquim Ribeiro, Valmir Macedo e dirigentes identificados pelos apelidos Dinho e Val orientam 90 militantes sobre como devem agir para tomar o Salão Verde de Câmara.

O mais eloqüente é Joaquim Ribeiro, que compara a invasão da Câmara com a invasão realizada pelo movimento em 2005 no Ministério da Fazenda.

¿ Depois que a gente entrar, a gente só sai quando e como quiser. Não tem mais segurança, mais nada contra nós. Depois de nós dominar aquele negócio lá, a gente sai como no Ministério da Fazenda: quando e como quiser ¿ disse Ribeiro.

Arruti diz que há 15 dias visita a Câmara todos os dias para conhecer o terreno ¿ os registros da Câmara se referem a 11 visitas desde 24 de maio. Relata que serão criados quatro comandos para agir na Câmara e facilitar a invasão do Salão Verde.

¿ A principal função de vocês lá dentro é garantir que as portas até o Salão de Baile (Salão Verde) não se fechem, para que outros convidados (cerca de 400 sem-terra) possam entrar para dançar ¿ afirmou Arruti.

¿Dá para entrar arrebentando¿

O militante Val diz como todos devem agir para não levantar suspeitas na visita de reconhecimento à Câmara. Arruti diz que eles são responsáveis pelo sucesso ou não da operação:

¿ Vocês foram escolhidos a dedo. Cada companheiro e companheira escolhido como representante do movimento de seus estados, como pessoas da maior confiança.

Nas imagens da segunda reunião, militantes que foram visitar a Câmara pedem a palavra para apresentar sugestões e dúvidas. Um militante diz que a portaria escolhida, a do anexo II, é a melhor entrada e viabiliza uma rápida entrada dos manifestantes até o Salão Verde.

¿ As portas são abertas. Dá para fazer cavalo doido e entrar arrebentando. Muitos participaram da ocupação do Ministério da Fazenda e pelo que deu para sentir vai ser mais tranqüilo. Lá dentro é que vai ser o chabu ¿ disse.

Ribeiro afirma que todos precisam obedecer à coordenação para que não entrem em portas e corredores errados. Tranqüiliza sobre os seguranças, dizendo que eles não são malucos de dar tiro e que há integrantes do MLST conversando sobre o protesto com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ¿ fato negado pela assessoria de imprensa. Fala da possibilidade de enfrentamento.

¿A fita é uma prova cabal¿

¿ Isso é garantia? Não é. Deixar de dar umas bolachas e levar uns pontapés, ninguém vai deixar (levar) não. (Várias vozes falam ao mesmo tempo) É provável que possa acontecer. Por isso os companheiros foram escolhidos a dedo. Quando a gente decidir ir para o baile, vocês vão dar estas condições para todo mundo chegar lá e começar a festa, a alegria, a reivindicação, abrir as faixas e gritar palavras de ordem ¿ afirmou Ribeiro.

As Polícias Civil, Legislativa e Militar não têm dúvidas de que a invasão foi premeditada e citam como prova a fita de vídeo com cenas do planejamento da ação. Na polícia, porém, os coordenadores do movimento negaram a intenção de forçar a entrada na Câmara e provocar o quebra-quebra.

¿ A fita é uma prova cabal de que esta manifestação contra a democracia foi planejada há mais tempo ¿ disse o delegado Antonio Coelho.

Segundo ele, foram encontradas pedras, pedaços de pau e de concreto no interior dos ônibus em que os manifestantes chegaram ao Distrito Federal. Os ônibus foram parados pela Polícia Militar ao entrar no DF. Os sem-terra disseram que iriam à Expotchê, feira de produtos gaúchos em Brasília. A PM escoltou os ônibus até a feira e foi embora. De lá, os sem-terra seguiram para o Congresso.

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