Título: CLÉRIGO FOI TORTURADO PELA AGÊNCIA
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Fonte: O Globo, 08/06/2006, O Mundo, p. 36

Advogado diz ter encontrado 3 vezes egípcio seqüestrado em Milão

ROMA. Um clérigo egípcio seqüestrado numa rua em Milão por agentes da CIA e metido num vôo para fora do país foi ¿torturado desde o momento de sua captura¿, afirmou um advogado que falou com ele na prisão egípcia onde ainda está detido. Montasser Zayat disse ter se encontrado com o clérigo três vezes na prisão em março e abril.

O caso de Abu Omar, cujo nome real é Hassan Mustafa Osama Nasr, tornou-se célebre na Itália desde que um magistrado em Milão emitiu ordens de prisão para 22 agentes americanos suspeitos de envolvimento em seu desaparecimento. Omar, um imã com trajetória de militância, tinha recebido asilo na Itália, mas estava sob investigação por supostas ligações com terroristas.

Ele foi capturado em 17 de fevereiro de 2003, colocado numa van e levado para a base aérea americana de Aviano, perto de Veneza, e de lá transferido para o Cairo, via Alemanha. Em 2004, ele telefonou para sua mulher e seus amigos em Milão e lhes disse que fora levado a uma prisão secreta no Egito e torturado com choques elétricos. No ano passado, o jornal ¿The Washington Post¿, citando três veteranos da CIA inteirados da operação, afirmou que as autoridades italianas tiveram conhecimento antecipado da operação da CIA e a teriam aprovado.

Agentes da CIA podem ser julgados à revelia na Itália

A reportagem foi negada pelo ministro para Relações Parlamentares, Carlo Giovanardi, que disse que o seqüestro ¿nunca chegou ao conhecimento do Executivo ou de instituições nacionais¿. Luigi Malabarba, um comunista membro da Comissão Parlamentar sobre Serviços Secretos, ridicularizou as afirmações do ministro. ¿As autoridades políticas (italianas) e a polícia... concordaram com o seqüestro de Abu Omar porque compartilhavam (a crença) na modalidade de guerra preventiva contra o terrorismo da forma pregada pelo governo Bush¿, disse ele. ¿Eles obviamente não podem admitir isso porque viola a Constituição, a lei italiana e tratados internacionais. Giovanardi é um mentiroso.¿

Um promotor público em Milão, Armando Spataro, celebrado por ter processado chefes da máfia, pediu a extradição dos 22 agentes da CIA dos EUA para que sejam julgados na Itália. O então ministro da Justiça de Silvio Berlusconi, Roberto Castelli, recusou-se a dar seguimento ao pedido de extradição, e seu sucessor, Clemente Mastella, ainda não respondeu. Mas na semana passada Spataro disse que mesmo se agentes não forem extraditados nada impede que sejam julgados à revelia.