Título: POLÍTICOS EM ROMARIA PRESSIONAM TRIBUNAL
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 09/06/2006, O País, p. 3

Dirigentes do PFL chegaram ameaçar com desobediência, se decisão não fosse revista

BRASÍLIA. Nos últimos dois dias, dirigentes e líderes dos principais partidos, com exceção do PT e do PDT, fizeram uma forte mobilização para pressionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a mudar a interpretação mais rigorosa que havia feito da regra de verticalização, na sessão de terça-feira à noite . A pressão política, que começou anteontem e se estendeu até o início da noite de ontem, contou até com uma ameaça de desobediência à legislação eleitoral, sugerida pelo PFL.

Na tarde de quarta-feira, os políticas já formavam caravanas ao TSE. Primeiro, foram os senadores pefelistas Jorge Bornhausen (SC) e José Agripino (RN) e o líder do partido na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). À noite, foi a vez de o presidente do TSE, Marco Aurélio de Mello, ser visitado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que estava acompanhado dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ontem de manhã, Renan voltou a falar por telefone com o presidente do TSE.

Nessas conversas foi relatado o sentimento do Congresso de que a mudança das regras nesta altura do processo eleitoral causaria um estrago sem precedentes no cenário político. Segundo relato de um dos presentes, Marco Aurélio mais ouviu do que falou. Os senadores, no encontro de quarta-feira à noite, deixaram claro que o Congresso reagiria a decisão.

¿ Vamos aguardar a manifestação oficial do TSE para decidir o que fazer ¿ disse Renan, ontem à tarde.

Ontem de manhã, na reunião da executiva do PFL, na qual decidiram adiar a convenção do partido de 14 para o 21 deste mês, os dirigentes pefelistas anunciaram que tentariam mudar a decisão do TSE, inicialmente no campo jurídico. No entanto, o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), admitiu a possibilidade de um movimento político de contestação, se o TSE não mudasse sua interpretação. Na reunião, o deputado José Thomaz Nonô (AL), sugeriu que o PFL convocasse outros partidos e propusesse um boicote às eleições deste ano, se as regras não fossem alteradas.

¿ É preciso garantir a normalidade das eleições. Essa nova interpretação da lei gera insegurança jurídica a dez dias do prazo final para a realização das convenções ¿ disse Bornhausen.

Senadores e deputados também acionaram amigos e interlocutores de ministros do TSE para pedir uma nova decisão. Além da conversa pessoal, Sarney foi um dos que mandaram recados para Marco Aurélio, por intermédio de amigos comuns. A amigos, o senador expôs sua preocupação com a situação no Maranhão, onde seu filho, o deputado Zequinha Sarney (PV-MA), ficaria impedido de apoiar a candidatura ao governo estadual da sua irmã, a senadora Roseana Sarney (PFL-MA).

Sarney chegou a conversar com o ex-presidente do STF Nelson Jobim para ajudá-lo a solucionar o problema. O mesmo fez o senador Antonio Carlos Magalhães, que acionou o ministro José Gerardo Grossi. A amizade entre os dois é antiga. Grossi já chegou a advogar para Antonio Carlos no episódio da quebra de sigilo telefônico envolvendo políticos baianos. Renan valeu-se da amizade com Marco Aurélio Mello para pôr de forma clara todas as dificuldades. No início da noite de ontem, Renan adiou a viagem para Alagoas e ficou em Brasília para acompanhar a sessão do TSE.