Título: Invasão foi decidida há dois meses
Autor: Jailton de Carvalho e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 09/06/2006, O País, p. 8

Maranhão queria ocupar espaço do MST

BRASÍLIA. A invasão da Câmara por militantes do MLST foi decidida há dois meses pela cúpula do movimento, numa reunião em Recife. Segundo fontes do MLST ouvidas pelo GLOBO, desde o princípio a ordem era entrar na Câmara e ocupar o Salão Verde de qualquer jeito. A decisão foi tomada em abril, depois de a cúpula do MLST constatar que o movimento tinha perdido espaço nacional para o MST.

A idéia de invadir a Câmara dos Deputados partiu do principal líder do movimento, Bruno Maranhão, inspirado na invasão ao prédio do Ministério da Fazenda, em abril de 2005.

Naquela ocasião, o MLST ganhou as manchetes dos principais jornais do país e roubou o protagonismo do MST, até então o único grupo de sem-terra com influência no país. A análise feita por Maranhão era a de que em 2005, enquanto o MST foi tímido nas ações, o MLST mostrou vigor ao invadir o Ministério da Fazenda. Por isso, a decisão de repetir em 2006 uma ¿ação espetacular¿.

¿ O MST ficou para trás. Ele não reciclou e preferiu uma convivência com o governo. Vamos ser a referência entre os movimentos de sem-terra ¿ repetiu Maranhão para os militantes nos últimos dois meses.

Na invasão da Câmara, Maranhão repetiu a estratégia da invasão ao Ministério da Fazenda. Usou como álibi o gabinete do deputado Nelson Pelegrino (PT-BA) para justificar a entrada na Câmara. De lá, comandou por celular a entrada de todos os militantes. Ordenou a invasão, mesmo com resistência.

A mesma cena havia acontecido em abril do ano passado, quando ele subiu até o gabinete do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para deixar uma pauta de reinvindicações. Na ocasião, só não houve feridos porque a segurança não mostrou reação aos invasores e Palocci não estava em Brasília.

Jutaí Moraes, um dos coordenadores nacionais do MLST, negou ontem que o movimento tenha premeditado a depredação das instalações da Câmara. Segundo ele, a entidade planejou apenas entrar no Congresso e fazer um protesto no Salão Verde, ao lado do plenário da Câmara, em defesa da reforma agrária. Moraes disse até que os envolvidos na pancadaria e destruição agiram por conta própria e devem ser responsabilizados:

¿ Não existiu nenhuma orientação da direção do movimento, nenhuma fita que diz : entra lá, quebra isso, quebra aquilo ¿ disse.

Moraes teve dificuldades para explicar a origem da confusão. Ele disse que os sem-terra chegaram na entrada da Câmara e, em certo momento, teve início o confronto.

¿ Eles chegaram lá e começou o empurra-empurra. Se algum companheiro se excedeu, vai ser identificado e punido ¿ afirmou Moraes.