Título: MARCOLA DIZ À CPI QUE SUCESSOR JÁ FOI ESCOLHIDO
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 09/06/2006, O País, p. 11

Chefe de facção criminosa relata a deputados que, por celular, mandou suspender rebeliões em presídios de SP

PRESIDENTE BERNARDES (SP). O chefe da facção criminosa que aterrorizou São Paulo no mês passado, Marcos Williams Herbas Camacho, o Marcola, depôs durante quatro horas ontem, a oito integrantes da CPI do Tráfico de Armas, e contou que está ameaçado pela organização que lidera e por outra facção rival, que tem crescido em São Paulo. A organização de Marcola teria preparado um atentado contra o Fórum da Barra Funda, em São Paulo, caso ele fosse depor no local, como a CPI pretendia.

O sucessor de Marcola já estaria escolhido: trata-se de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, seu braço-direto, preso com ele no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes.

¿ O que mais surpreendeu foi a frase de que a vida dele vale pouco. Que (a vida dele) pode valer para a gente, mas para ele não vale ¿ afirmou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).

Marcola negou o suposto acordo com o governo de São Paulo para cessar os ataques, mas admitiu que foram feitos contatos com autoridades do governo. Deu informações consideradas fundamentais. O presidente da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), e o relator, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), afirmaram que o teor será divulgado no relatório, previsto para ser entregue em julho.

¿ Ele não assume acordo, mas um contato de pessoas interessadas em seu bem-estar. Muitas coisas foram mencionadas, não posso falar ¿ disse o presidente da CPI.

Facção tem regras e até previdência social

Marcola confirmou à CPI que um telefonema feito do presídio de Presidente Bernardes pôs fim às rebeliões nas prisões. Dois dias após o início dos motins, no dia 14 de maio, a advogada Iracema Vasciaveo esteve em Presidente Bernardes acompanhada por representantes do governo do estado e da polícia. Iracema teria entrado no presídio com dois celulares, certificou-se de que Marcola estava bem e telefonou para um detento que estava em outro presídio rebelados. Com a informação de que ele estaria bem, as rebeliões foram encerradas.

Jungmann esclareceu que Marcola, admitindo ser chefe da facção e explicando o funcionamento dessa espécie de ¿sindicato do crime¿, que atuaria em um sistema de ¿redes¿ e tem até uma espécie de previdência social para os integrantes (120 mil presos e 500 mil soltos):

¿ Restaram absolutamente claras para todos nós três coisas: em primeiro lugar que o Marcola é o líder, ao contrário do que ele nega. Em segundo lugar, que a facção tem uma função de sindicato. Ela cuida do preso da hora em que ele entra até hora em que sai (da prisão) e ainda cuida dos familiares. Em terceiro lugar, ela cobra lealdade e a participação na organização criminosa e no resultado de todos os crimes. A facção funciona como uma sociedade constituída. Tem uma certa ideologia e que já atua em sistema de redes ¿ disse Jungmann.

A suposta participação de advogados nos crimes da facção ficou evidente para os deputados da CPI do Tráfico de Armas. Desde 2002, a polícia paulista tem informações de que grande parte deles teve os cursos de direito patrocinados pela facção e hoje prestam serviços ao esquema. Marcola afirmou aos deputados que a formação dos advogados é de fato financiada com recursos da facção.