Título: Traficantes que atiraram em escola são mortos
Autor: Sérgio Ramalho e Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 09/06/2006, Rio, p. 14

Ordem para execução teria partido de dentro de Bangu I

Responsáveis pelos disparos que feriram 17 crianças na Escola Municipal Henrique Foréis, no Complexo do Alemão, dois ¿soldados¿ do tráfico foram punidos com a morte. A ¿sentença¿ teria partido de Bangu 1, onde cumpre pena Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, um dos chefes da facção que controla a venda de drogas na favela. A dupla foi fuzilada anteontem à noite, próximo à sede da Associação de Moradores da Fazendinha, por um integrante do bando conhecido como Panta. A informação foi confirmada por policiais da área de inteligência da Polícia Civil e do Serviço Reservado (P-2) da Polícia Militar.

O fuzilamento na comunidade foi determinado por Antônio Ferreira, o Tota, principal aliado de Marcinho VP, para mostrar aos moradores que os responsáveis pelos disparos foram punidos. Após o crime, os corpos dos dois bandidos foram colocados na mala de um carro e levados para o alto do morro.

A morte como punição também aconteceu em dezembro, quando quatro traficantes supostamente ligados ao ataque ao ônibus 350 (Passeio-Irajá), onde cinco passageiros morreram queimados, foram assassinados por cúmplices. Os corpos foram encontrados num Meriva abandonado numa esquina, em Brás de Pina. Junto às vítimas, um cartaz foi encontrado com os seguintes dizeres: "Taí os quatro que queimaram o ônibus. Nosso (nome da facção) não aceita ato de terrorismo". Os bandidos teriam ainda telefonado para a Delegacia de Repressão a Entorpecentes avisando onde estavam os corpos.

Peritos vão à escola em carro blindado

Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli, policiais dos 16º BPM (Olaria) e da 22ª DP (Penha) e peritos da 1ª Delegacia Policial de Justiça Militar (1ª DPJM) examinaram no fim da manhã de ontem as salas de aula na Escola Municipal Henrique Foréis. O laudo da perícia, segundo o delegado titular da 22ª DP (Penha), Eduardo Freitas, deve ficar pronto apenas hoje. Ele adiantou, no entanto, que, ao observar as perfurações de balas no muro e nas paredes da escola, peritos constataram que os tiros vieram do alto do morro.

Para chegar à escola, na subida do Morro da Fazendinha, policiais utilizaram o carro blindado do 16º BPM. Assim que perceberam a presença da polícia, traficantes soltaram fogos e começaram a provocar os policiais pelos rádiotransmissores. Enquanto peritos examinavam as três salas de aulas atingidas pelos tiros, um grupo de policiais se posicionou estrategicamente na subida do morro.

Ontem, o comandante do 16º BPM (Olaria), tenente-coronel José Luiz Nepomuceno, disse que os tiros atravessaram o muro da escola, a parede e os fragmentos das balas atingiram as salas de aulas. Para o delegado-adjunto da 22º DP (Penha), Alesandro Petralanda Santos, os fragmentos encontrados são provavelmente de projéteis de fuzil calibre 7,62.

Polícia não fará operação no morro

A partir de hoje o delegado Eduardo Freitas começará a convocar testemunhas para prestar depoimento. Ele quer ouvir o líder da associação de moradores, Galileu Vieira da Cruz, a diretora da escola, Dinalva Gurgel Norte Moreira, e outros professores que estavam no colégio na hora dos disparos.

O comandante do batalhão de Olaria descartou a possibilidade de fazer uma operação imediatamente no morro e colocar em risco moradores e crianças da comunidade. Segundo ele, o tráfico no Complexo do Alemão é chefiado pelos irmãos Antônio José de Souza Ferreira, o Tota; Roberto de Souza; e Ronaldo de Souza. Os três, segundo o coronel, passaram a controlar as ¿bocas-de-fumo¿ de todas as favelas do Alemão desde que o traficante conhecido como Pezão, sucessor de Elias Maluco, foi preso.

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