Título: Escola perdeu professores assustados com a violência
Autor: Elenilce Bottari e Ruben Berta
Fonte: O Globo, 09/06/2006, Rio, p. 15

Diretores das unidades apontam a região mais perigosa

O medo da violência é uma rotina na Escola Municipal Henrique Foréis. Segundo a diretora Dinalva Gurgel Norte Moreira, no fim do ano passado dois dos 11 professores pediram para sair por medo. Uma pesquisa realizada em 2005 pela Secretaria municipal de Educação em parceria com o Instituto Pereira Passos, e publicada este ano, já apontava a área da 3ª Coordenadoria Regional de Ensino (CRE), que abrange os bairros entre o Méier e Inhaúma ¿ onde a escola está situada ¿ como a mais violenta, na opinião dos diretores. Numa escala de violência de 1 a 10, a média da 3ª CRE foi de 6,84, praticamente o dobro da considerada menos violenta, a 9ª CRE (Campo Grande), que teve média de 3,57.

Aumento de 15% da violência na região

O estudo revelou ainda que, na opinião dos diretores, em 2005 a violência na região da 3ª CRE aumentou 15% em relação a 2001, quando a pesquisa foi realizada pela primeira vez. Segundo a secretária de Educação do município, Sônia Mograbi, o objetivo da prefeitura foi ter a avaliação do todas as diretoras de escola sobre um tema que vem preocupando a sociedade.

¿ Constatamos, tanto em 2001 quanto em 2005, que a violência externa tem percentuais significativos, interferindo no funcionamento de nossas unidades escolares ¿ afirmou a secretária.

Segundo ela, para garantir a segurança dos alunos, as Coordenadorias Regionais de Educação e seus dirigentes atuam localmente solicitando aos batalhões dessas áreas reforço policial, sempre que necessário. A violência vem mexendo até mesmo no calendário escolar do Rio. Segundo dados da Secretaria municipal de Educação, neste ano o município teve perda de 20 dias de aulas por causa da violência, em 56 escolas. Segundo a secretária Sônia Mograbi, as diretoras do município são orientadas para não correr riscos, tendo autonomia para suspender as atividades, de acordo com a situação.

A coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), Guilhermina Rocha, rebate dizendo que ainda é grande a burocracia na hora de decidir pelo fechamento de uma escola:

¿ É preciso que a Coordenadoria Regional de Ensino autorize. Há uma grande preocupação em manter os 200 dias letivos do calendário. Mas de nada adianta ficar com a escola aberta se os alunos não comparecem nas épocas de conflitos.

Ao mesmo tempo em que a violência nas ruas cresce na percepção dos diretores, a violência interna nas escolas vem caindo, segundo a pesquisa feita pelo município. Em 2001 apenas 25% dos diretores deram nota 1 para violência nas salas de aulas e em 2005 esse número subiu para 54%. Segundo a secretária, a razão de o Rio ser considerado hoje uma das cidades com menor problema de violência interna é resultado do esforço desenvolvido por diretores, professores, funcionários de apoio e demais membros da comunidade escolar. Para o prefeito Cesar Maia, existe uma relação de causa e efeito:

¿ Nas área mais violentas é onde há menos violência nas escolas. A escola é o ultimo reduto das famílias nessas áreas.

Juíza aponta inversão de valores

A pesquisadora Miriam Abramovay, que coordenou em 2003 um levantamento da Unesco sobre violência nas escolas em diversas capitais do país, disse que o Rio foi um dos locais onde houve maior dificuldade de colher relatos:

¿ Nas escolas do Rio, localizadas em áreas de risco, há dois comportamentos comuns hoje em dia: a negação, por medo de represálias, ou a banalização da violência.

A professora da Faculdade de Educação da Uerj Bertha do Valle comenta que é delicado o papel do professor que trabalha em áreas de conflito:

¿ Discutir, por exemplo, a violência dentro das salas de aula é algo que deve ser bem pensado em cada caso. Há escolas em que o professor se coloca em risco se traz esta questão para ser abordada.

A juíza Ivone Caetano, da 1ª Vara da Infância, Juventude e do Idoso, considera grave o caso da Escola Henrique Foréis:

¿ Há uma total inversão de valores. Antes, havia ao menos uma sensação de que o tráfico respeitava a comunidade.