Título: Fizemos o que foi possível¿ para salvar Varig, diz ministro da Defesa
Autor: Geralda Doca
Fonte: O Globo, 09/06/2006, Economia, p. 30

Governo está cético quanto à capacidade de o TGV recuperar a empresa

BRASÍLIA e RIO. O ministro da Defesa, Waldir Pires, afirmou ontem que o governo fez o que podia para salvar a Varig, inclusive facilitando o fornecimento de insumos básicos (combustível e uso dos aeroportos sem pagamento de tarifas) para permitir que a empresa continuasse a operar. Ele lamentou a falta de interesse das empresas aéreas no leilão da companhia ¿ que contou com um único lance, do Trabalhadores do Grupo Varig (TGV) ¿ e afirmou que aguarda decisão da Justiça do Rio sobre o destino da Varig.

¿ Fizemos o que foi possível, dentro da lei, para que não faltassem os insumos básicos para que a Varig continuasse operando ¿ disse o ministro.

No governo, o clima era de ceticismo em relação à capacidade de o TGV recuperar a Varig. E, segundo fontes, havia desconfiança sobre a origem dos recursos que serão injetados na empresa. Pires evitou fazer comentários a esse respeito.

O ministro da Defesa esperava que outras empresas participassem do leilão:

¿ Imaginei que a disputa fosse um pouco maior. A vontade da gente era acreditar que essas empresas estavam dizendo a verdade e, conseqüentemente, que entrariam para vencer e se beneficiar da longa tradição da Varig.

O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, também não se manifestou sobre a oferta e destacou que o órgão espera a decisão do juiz Luiz Roberto Ayoub, que conduz o processo na 8ª Vara Empresarial do Rio.

Segundo fontes do governo, os credores públicos também receberam com ceticismo a proposta do TGV. A Infraero, que estava à frente das negociações, enviou ao leilão apenas um advogado, para manter a empresa informada sobre os acontecimentos.

Para o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira, as empresas não se interessaram porque sabem que caso a Varig pare de voar o governo será obrigado a repassar de graça para as outras companhias os slots (espaços nos aeroportos mais movimentados do país) e as freqüências de vôo que hoje estão nas mãos da empresa.

Caso Ayoub decrete a falência da Varig, a Anac chamará as concorrentes para colocar em funcionamento o plano de contingência. A idéia é garantir que os consumidores que compraram passagens da Varig não sejam prejudicados.

Ações da empresa fecharam em baixa de 58%

Em um relatório, o Banco Pactual disse que TAM e Gol saíram ganhando com o leilão, porque vão continuar a abocanhar fatias do mercado. Para o Pactual, mesmo que a proposta do TGV seja aprovada, o fato de o controle ficar com empregados vai dificultar o retorno da Varig à lucratividade, ¿sem mencionar as preocupações sobre recursos para capital de giro e manutenção¿. Assim, o banco elevou as probabilidades para a falência da Varig até o fim do ano de 40% para 60%, bem como as projeções para os papéis de Gol e TAM.

Ontem, as ações da Varig tiveram a maior queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa): a Varig PN (preferenciais, sem direito a voto) fechou em baixa de 58,05%, a R$1,51. O papel abriu em alta de 11,1%, a R$4, mas após o leilão atingiu a mínima de R$1,31 (-63,61%). A liquidez, porém, permaneceu baixa. Foram 3.941 negócios, enquanto as ações preferenciais da Petrobras, por exemplo, tiveram 6.710 operações.

COLABOROU Liane Thedim