Título: BENEFÍCIO MAIOR FOI PARA CLASSE MÉDIA EM 2005
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 09/06/2006, Economia, p. 35

Aumento do salário-mínimo teve pouco efeito redistributivo

O mesmo estudo que constatou avanço contínuo da redistribuição de renda ¿ principalmente de 2001 a 2004, no menor patamar de desigualdade desde a década de 60 ¿ também mostrou que o ritmo no caminho da igualdade de rendimentos diminuiu em 2005. Pelo menos no mercado de trabalho. Segundo o economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o salário-mínimo exerceu pouca influência na redução da desigualdade entre os trabalhadores. Efeito bastante significativo até 2004.

¿ Mesmo com aumento de 9% no mínimo, a desigualdade caiu pouco entre maio e outubro de 2005, mostrando que esse efeito se esgotou entre os trabalhadores. Já alcançou o seu máximo ¿ disse Neri.

Enquanto de outubro de 2002 a outubro de 2004, os 50% mais pobres conseguiram passar de uma apropriação da renda de 10% para 12%, em 2005 essa fatia subiu apenas para 12,24%. A perda dos que ganham mais, porém, continuou com força: os 10% mais ricos, que detinham 47,27% em outubro de 2004, viram a parcela cair para 46,31%.

¿ A redistribuição de renda não foi muito pró-pobre, mas anti-elite. A transferência foi mais para a classe intermediária ¿ explicou Neri.

E os números da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, reunidos pelo pesquisador, atestam isso: a classe média, traduzida pela fatia dos 40% intermediários na pirâmide da renda ganharam, passando de uma apropriação de 40,74% da renda total em 2004 para 41,45% no ano passado.

Neri: Bolsa-Família tem mais efeito na redistribuição

A constatação de que a desigualdade caiu menos no mercado de trabalho em 2005 não tira as projeções do economista de que a redistribuição melhorará, mas por outro caminho: as transferências governamentais. O aumento do mínimo tem impacto por conta dos benefícios da Previdência Social e o Bolsa-Família ampliou o número de beneficiados do programa:

¿ O programa Bolsa-Família tem mais efeito na redistribuição, por ser dirigido aos mais pobres. Somente mais recentemente, a Previdência conseguiu ter impacto na desigualdade, quando optou por dar aumentos reais maiores para os inativos da base ¿ disse o economista da FGV.

Segundo Neri, o retorno social em comparação com o custo fiscal no Bolsa-Família já chegou a ser 20 vezes ao da Previdência Social de 1995 a 2004:

¿ Quando se isola um período mais curto, de 2001 a 2004, essa diferença cai para quatro vezes. Portanto, o Bolsa-Família tem um viés mais distributivo e deveria ser ampliado, abandonando outras políticas ¿ disse Neri. (Cássia Almeida)