Título: LULA ATACA CÂMARA POR REAJUSTE A APOSENTADOS
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 10/06/2006, O País, p. 8

`A votação do salário mínimo no Congresso Nacional não foi coisa séria¿, disse o presidente em evento no Rio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem os 274 deputados federais que aprovaram, na quarta-feira, a emenda que estende para todos os aposentados o valor do reajuste do salário-mínimo, 16,7%. A decisão, advertiu, vai onerar a Previdência com gastos de mais R$8 bilhões.

¿ Uma grande nação passa por uma política séria e pelo fato de a gente não brincar. A votação do salário-mínimo no Congresso Nacional não foi uma coisa séria.

¿É, no mínimo, pouco respeitável com o povo¿

Lula, que passou o dia cumprindo agenda no Rio de Janeiro, lamentou a inclusão da emenda na votação da MP do novo valor do salário-mínimo, fixado em R$350:

¿ O que estava lá, para ser votado, era um acordo feito pela primeira vez na história do Brasil com todas as centrais sindicais e aposentados. Aí, de repente, alguém resolve que aquilo pode ser bom eleitoralmente, vota favorável e coloca R$8 bilhões a mais de gasto na Previdência, que já está estourada em R$40 bilhões. É, no mínimo, pouco respeitável com o povo.

No momento da votação havia 73 deputados do PT e da base em obstrução, porque eram contrários à emenda, mas não queriam o registro do seu voto contrário a um benefício em ano eleitoral. Votaram a favor do reajuste quatro deputados petistas.

¿ A gente não pode ficar fazendo proselitismo com a economia em época de eleição. O mundo não termina amanhã. As coisas que fizermos são para os nossos filhos e netos. Não são só para nós.

Lula esteve ontem, pela manhã, para anunciar um novo programa do BNDES para o financiamento de caminhões novos e usados. Embora evite falar de sua candidatura à reeleição, ele garantiu que não tomará medidas pensando em extrair vantagens eleitorais.

¿ Não haverá, da minha parte, nenhum gesto que coloque em risco a seriedade da estabilidade da economia brasileira, da política fiscal dura, por conta da eleição. As coisas serão feitas com a mesma tranqüilidade que estamos fazendo até agora.

O programa de financiamento do BNDES, o Procaminhoneiro, vai dispor de R$500 milhões para financiamentos até 31 de dezembro. Os interessados poderão financiar a aquisição de caminhões, chassis e carrocerias de caminhões de fabricação nacional, novos ou usados, que tenham até oito anos de fabricação. O prazo de carência será de 84 meses, com taxas de juros fixada em 15,15% (incluindo a Taxa de Juros de Longo Prazo/TJLP).

¿ Deus queira que vocês gastem esses R$500 milhões até o mês de outubro, porque o Demian (Demian Fiocca, presidente do BNDES) terá de colocar mais R$500 milhões, e depois, se precisar, vai colocar mais R$500 milhões, porque o que queremos, efetivamente, é dar uma contribuição para a renovação da frota.

Lula disse que o Brasil já perdeu oportunidades históricas de ser uma potência porque a elite política só conseguia pensar no país de quatro em quatro anos:

¿ A mediocridade política brasileira obriga a que as pessoas só pensem até o final do seu mandato quando, na verdade, um país tem que ser pensado para 30 anos, no mínimo para 20 anos.

Presidente garante que não mudará política econômica

O presidente citou, ao elogiar o seu governo, dados que indicam a redução da desigualdade social ao menor nível desde o censo de 1960. Para ele, os resultados demonstram que é possível compatibilizar política fiscal com política social forte:

¿ Vamos continuar com o colete, não vamos atravessar nadando de forma esbaforida para morrer afogado, vamos dar braçadas devagar, vamos chegar a um porto seguro que este país merece.