Título: Irmão de músico assassinado critica a polícia
Autor: Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 10/06/2006, Rio, p. 17

Com dreno no pulmão esquerdo, perfurado por uma bala, vítima ainda precisa fazer exercícios de respiração

O dreno no pulmão esquerdo incomoda e os exercícios de respiração com um aparelho chamado Respiron deixam cansado o engenheiro químico Rafael Silva Netto, de 32 anos, irmão mais velho do guitarrista Nettinho, da banda Detonautas, morto durante tentativa de assalto na Avenida Marechal Rondon, no Rocha. Baleado do lado esquerdo das costas, ele viu o irmão morto a seu lado logo após os disparos. Internado no Hospital São Lucas, em Copacabana, Rafael, em entrevista exclusiva ao GLOBO, criticou a polícia por saber que havia um bando assaltando na região e por deixar os motoristas à própria sorte.

¿ Esses dias, aquela Avenida Marechal Rondon deve ser a mais segura da cidade, cheia de policiais. Agora, daqui a duas semanas vai voltar tudo ao que era antes. Toda vítima de crime deveria ser tratada como famoso. E não é isso o que acontece. Já se sabia que essa gangue estava fazendo aquilo naquela área há várias semanas. Saem naquela região, assaltam, roubam carros. E agora é que começaram a fazer rondas. Precisou morrer alguém famoso para se fazer alguma coisa ¿ desabafou ainda deitado na cama do hospital.

¿Não nos deram tempo de nada¿

Perguntado sobre o que achou da morte de supostos envolvidos no crime por traficantes da Mangueira, comentou:

¿ O tribunal do tráfico é muito mais eficiente do que a ação da polícia. Eles têm as leis deles, julgam instantaneamente e aplicam a pena, que para eles é só a pena de morte. Mas é difícil ser a favor da pena de morte numa sociedade como a nossa. Porque muitas vezes o cara que está ali apertando o gatilho é fruto das circunstâncias. Mas deveria haver uma ação policial mais forte. E eles não fazem isso. Disseram que o carro usado por eles tinha sido roubado três dias antes, no Leblon, sabiam de quem tinha sido roubado. A impressão que deixa é que a polícia sabe tudo e não faz nada.

Da trágica tentativa de assalto, Rafael disse lembrar-se muito pouco, já que os bandidos sequer demonstraram a intenção de cometer algum crime.

¿ Lembro que foi tudo muito rápido, uma fração de segundo. Passou um carro pela gente atirando. Antes de eu perceber o que era, já vi uma arma apontada para mim. Tentei me esconder, dobrando o corpo para a direita, quando senti uma porrada do lado esquerdo das costas. Aí me dei conta: tomei um tiro. E comecei a rezar para não morrer.

Rafael Netto contou que a impressão que teve foi a de que o alvo não eram eles.

¿ A impressão que eu tenho é que primeiro ouvimos os tiros e depois veio o susto. A minha impressão é que estavam atirando em outras pessoas. Não nos deram tempo de nada. Não tentaram cercar o carro, não voltaram depois que ele parou ¿ contou.