Título: Ministro do Turismo diz que crise da Varig já afeta as viagens para o país
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 10/06/2006, Economia, p. 34

Mares Guia reafirma que governo não tem que socorrer qualquer companhia

O Ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, afirmou ontem que a crise da Varig já está afetando o turismo internacional para o Brasil. A média de vôos internacionais para o país está em torno de 800 por semana, em vez dos 900 previstos pelo governo. Mas o ministro se mostrou radicalmente contra qualquer socorro do governo à companhia aérea.

Segundo Mares Guia, assim como qualquer outra empresa privada, a Varig tem de tentar solucionar seus problemas e, se não conseguir, poderá falir. O ministro, que esteve ontem apresentando a política de turismo na Associação Comercial do Rio de Janeiro, fez duras críticas a alguns setores do governo ¿ sem mencionar quais ¿ que tentaram salvar a Varig quando, em 2003 e 2004, houve a proibição de outras companhias aumentarem suas frotas de aviões.

¿- O governo não tem que proteger empresa, tem que proteger o passageiro. A obrigação do governo é ter um marco regulatório para que possam competir. As empresas é que tratem de buscar competência financeira, gerencial e tecnológica para competir. As empresas que não conseguirem se recuperar fecham, como sapataria, supermercado, banco, indústria automobilística. Tanta gente já quebrou, como a Panair quebrou para a Varig entrar no lugar dela. O governo tem que incentivar o crescimento do país com políticas públicas e cuidar de educação, saúde, justiça ¿ disparou o ministro.

Empresa beneficiada com lei de recuperação de empresas

Mares Guia destacou ainda que a Varig ainda foi beneficiada com a nova Lei de Falências, que permite a reestruturação das empresas. A lei foi uma ¿tábua de salvação¿ para a Varig, diz o ministro, caso contrário já teria falido.

¿ Nós atrasamos o turismo brasileiro por causa da teimosia de alguns quererem salvar uma empresa nas costas de um país. Tem um marco de competição estabelecido na Anac (agência reguladora do setor de aviação), e todos os empresários vão lutar pelo mercado nesse marco, sem concorrência desleal. O resto é competição. O governo não tem que meter o bico nisso ¿ voltou a enfatizar Mares Guia.

Com o discurso em defesa do mercado competitivo, contra qualquer ajuda à Varig, ele arrancou aplausos diversas vezes durante sua palestra a empresários do setor.

O ministro enfatizou que é preciso ter políticas públicas para desenvolver o país em todas as áreas, inclusive na do turismo, com o objetivo de aumentar o número de vôos internacionais. O objetivo são 900 vôos internacionais chegando por semana ao país, o que permitiria atingir a meta de sete milhões de turistas estrangeiros. No entanto, segundo ele, em função da crise da Varig, com a redução do número de assentos, esse número está em torno de 800 vôos semanais.

No momento em que o governo brasileiro iniciou seu programa de crescimento do turismo, a Varig entrou em profunda crise, a partir de 2003 e 2004, segundo o ministro. Mares Guia lembrou que no último mês de abril, nos vôos internacionais, a Varig diminuiu em 24% sua oferta de assentos:

¿- Eu espero com todo empenho uma solução para a Varig, na hora em que encontrar um grupo que possa gerenciar profissionalmente, possa voltar a crescer. Esses dois últimos anos foram dramáticos para a companhia.

Referindo-se às críticas de que alguns setores do governo tentaram ajudar a Varig, o ministro explicou que em um certo momento foi proibido que outras companhias aéreas comprassem ou alugassem aviões novos. Isso ocorreu quando a Varig e a TAM fizeram um acordo de compartilhamento de aviões.

¿ Isso não existe no mundo ¿ disse Mares Guia.