Título: PETROBRAS: CONTRATO REGE PREÇO DO GÁS DA BOLÍVIA
Autor: Vivian Oswald
Fonte: O Globo, 10/06/2006, Economia, p. 39

Ildo Sauer, diretor da estatal, afirma que bolivianos `já sabem a resposta¿ se pedirem reajuste além do previsto

AMSTERDÃ. Se a Bolívia tem mesmo a intenção de reajustar o preço do gás natural exportado para o Brasil ¿ como afirmaram reiteradas vezes as autoridades daquele país ¿ o desejo ainda não foi manifestado formalmente à Petrobras. No entanto, o diretor de Gás e Energia da estatal brasileira, Ildo Sauer, adianta que caso os bolivianos façam o pedido eles já sabem a resposta.

¿ Oficialmente, não veio pedido. Duvido que venha. Eles já sabem a resposta e não vão se expor ¿ afirmou.

Segundo Sauer, qualquer correção dos preços do gás deve ser tratada exclusivamente no âmbito do contrato assinado em 1996, em vigor até 2019:

¿ Até agora, quem administra este contrato sou eu. Não recebemos qualquer pedido. Se houver, este será tratado como previsto no contrato. Temos dito abertamente que não vemos possibilidade relevante para mudanças. Até porque a situação está muito favorável para o produtor hoje.

Para Sauer, os níveis de preços atuais já não são tão competitivos para os pequenos consumidores industriais em regiões à margem dos centros de distribuição.

¿ Se não fosse comprador, diria que os preços estão equilibrados. Como sou, acho que eles sempre podem cair para estimular a produção.

Sobre as constantes declarações desencontradas dadas por autoridades bolivianas em relação ao gás natural, Sauer disse que antes se dizia que o Brasil era extremamente dependente da Bolívia, mas que isso mudou:

¿ A reação antes era tão solícita em declarações, mas depois chegou-se à conclusão de que é preciso lembrar que o Brasil tem o compromisso de comprar (gás boliviano) até 2019 ¿ afirmou o executivo.

O diretor da Petrobras disse que a Bolívia já não é mais um país tão atraente para o investidor. Embora reconheça que não há mais a instabilidade política que persistiu no país até recentemente, o problema agora é econômico.

¿ Antes havia um problema político. O decreto da nacionalização é a continuação de algo que vinha sendo feito no governo anterior. Mas a equação econômica da Bolívia se deteriorou com o aumento dos impostos e a nacionalização.

Durante a apresentação sobre a empresa na 23ª Conferência Mundial de Gás, em Amsterdã, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, mostrou aos representantes do setor as medidas da estatal para tentar diminuir a necessidade de gás da Bolívia. Entre elas, a antecipação da produção de gás nas bacias de Espírito Santo, Campos e Santos, no valor de 22,7 milhões de metros cúbicos/dia até 2008. Hoje, o Brasil consome 42 milhões de metros cúbicos/dia, dos quais 26 milhões da Bolívia.

Gabrielli diz que estatal tem um plano de contingência

A princípio, a antecipação da produção nas bacias tem por objetivo fazer frente ao aumento da demanda dos próximos anos. Gabrielli disse que a empresa continua investindo em novos projetos e tecnologias.

¿ Não estamos considerando não usar a capacidade de 30 milhões de metros cúbicos/dia de gás da Bolívia. Estamos contando com eles. Trata-se de uma janela de aumento da produção. No entanto, como a Petrobras tem longa experiência de fornecedor e produtor no Brasil, tem sempre um plano de contingência.

Perguntado sobre o potencial desse plano, Gabrielli evitou entrar em detalhes:

¿ Não seria indolor. Temos um plano que pode minimizar o impacto negativo a curto prazo, se houver uma interrupção. Temos hoje uma situação muito melhor do que a Europa quando teve problemas de fornecimento (de gás) com a Ucrânia.

Gabrielli disse ainda que o preço do gás da Bolívia deve ser reajustado em cerca de 11% em 1º de julho, quando está prevista a revisão trimestral no contrato. Ele ressaltou que essa correção não tem relação com o aumento de preço a que se refere o governo boliviano no decreto de nacionalização.

(*) A repórter viajou a convite da Petrobras