Título: MATANÇA NAS AREIAS DE GAZA
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Fonte: O Globo, 10/06/2006, O Mundo, p. 41

Sete banhistas morrem em bombardeio de praia e Hamas suspende trégua com Israel

CIDADE DE GAZA

Obombardeio de uma praia lotada na Faixa de Gaza matou ontem pelo menos sete pessoas ¿ entre elas um casal e seus três filhos pequenos ¿ que aproveitavam o dia de descanso semanal muçulmano fazendo piqueniques na areia. Acusado pelo ataque ¿ que teria sido um dos vários que realizou ontem em Gaza e foi descrito pele presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, como ¿um massacre sangrento¿ ¿ Israel ordenou às suas Forças Armadas que interrompessem suas operações militares no território para realizar uma investigação sobre a morte dos civis. A ANP decretou três dias de luto e as Brigadas Izzedin al-Qassam, braço armado do Hamas, suspenderam a trégua que 16 meses atrás decretaram contra Israel. Mais cinco palestinos ¿ desta vez supostos militantes ¿ foram mortos na série de ações militares israelenses ontem.

EUA fazem observação branda sobre chacina

O bombardeio ocorreu na Praia de Beit Lahya, onde morreram quase todos os membros da família Ghaliya: além do casal, Ali e Raisa, três filhos de 1, 3 e 10 anos. A única sobrevivente foi uma filha que estava na água. Pelo menos outras duas pessoas também perderam a vida e 30 ficaram feridas no ataque, que ainda não se sabe de onde foi feito e espalhou pânico pelo local. Testemunhas disseram que barcos da Marinha israelense fizeram os disparos, mas o comando das Forças Armadas afirmou que não houve ataque por mar ou por ar naquela área. Israel investigava a possibilidade de um projétil de artilharia terrestre ter sido responsável pela matança ou de o incidente não ter qualquer envolvimento de suas forças. O governo israelense lamentou a morte dos civis e disse não ter alvejado intencionalmente a praia.

Em meio às reações indignadas dos palestinos, que tomaram as ruas de Gaza para exigir retaliação, o premier Ismail Haniyeh classificou o ataque de ¿crime de guerra¿. O presidente Abbas também não poupou palavras para condenar a ação.

¿ Não há dúvida de que o acontecido em Gaza é um massacre sangrento de nosso povo, nossos civis, de forma totalmente aleatória ¿ acusou ele, pedindo intervenção internacional para pôr fim ¿à política de assassinatos de Israel¿.

Os governos de Reino Unido, Rússia, França e Espanha lamentaram ou condenaram as perdas civis no ataque, mas os Estados Unidos, tradicionais aliados de Israel e principais mediadores do processo de paz na região, disseram apenas que encorajarão o país ¿a refletir sobre as conseqüências de seus atos¿.

Num outro ataque, mísseis atingiram um carro e mataram dois irmãos e um primo suspeitos de dispararem foguetes al-Qassam contra o território de Israel. Os três eram membros dos Comitês Populares de Resistência. Em um segundo carro, três palestinos da Jihad Islâmica ficaram feridos. Perto de Jabaliya, dois homens morreram quando o veículo em que estavam foi atingido. A quantidade de mortes correspondeu ao maior número de mortes palestinas num único dia desde 2004.

Haniye acena com governo de unidade

Os ataques ocorreram um dia após o assassinato seletivo de Jamal Abu Samhadana, líder das forças de segurança do Hamas, em Rafah, num ataque israelense.

Por sua vez, Abbas deve confirmar hoje o dia 31 de julho como data do referendo sobre o Documento dos Prisioneiros, com o qual pretende forçar o Hamas, que chefia o governo da ANP, a reconhecer a existência de Israel. Ontem, o premier Haniyeh pediu a Abbas que não convoque o referendo e continue a negociar, alegando que a medida dividiria o povo palestino. Como contrapartida, Haniyeh propôs a integração do Fatah, o partido de Abbas derrotado nas urnas, ao governo.