Título: Milagre de Minas
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 11/06/2006, O GLOBO, p. 2

A convenção do PSDB hoje em Belo Horizonte materializa o esforço de colagem do candidato presidencial Geraldo Alckmin ao governador Aécio Neves, sem dúvida hoje o tucano eleitoralmente mais denso. Tem 90% de aprovação e uma média de 70% de intenções de votos para se reeleger. No entanto, Lula tem índices nordestinos de preferência em Minas. A experiência mostra que a transferência de votos é tarefa de muito difícil execução.

Ter o voto do eleitor não significa mandar em sua cabeça. Os tucanos sabem disso mas Aécio sabe também que, se não fizer demonstrações cabais de seu engajamento, arderá na fogueira das acusações internas, que já estão em circulação. Para neutralizá-las, ele abdicou de realizar sua convenção regional no final de junho para fazê-la hoje, juntamente com a convenção nacional. Alckmin, que corre contra o tempo e contra uma barreira de 20%, precisa ganhar logo o selo oficial. No final do mês, quando os partidos já tivessem resolvido suas pendengas internas, Aécio acabaria ampliando ainda mais a coligação (embora não careça disso). Tem dito que sacrificou sua estratégia regional de bom grado para ajudar Alckmin. E, embora não diga, para tentar calar os intrigantes.

Minas é o estado que Alckmin mais tem visitado mas há duas semanas, tendo combinado com Aécio uma visita à Fiemg, chegou mais cedo e resolveu ir a Governador Valadares com um grupo de deputados. De pronto, circulou o boato de que Aécio evitou acompanhá-lo. As cobranças vão continuar se Aécio não conseguir fazer o esperado milagre da transferência de votos. Ele é realista.

¿ Não tenho a ilusão de que Geraldo terá em Minas a mesma votação que eu terei. Mas vou me empenhar para que ele cresça muito aqui, e ele vai crescer.

Esperam os tucanos que Alckmin chegue a agosto com 30% de intenções de votos no país. Na televisão, faria o resto. Mas para isso ele precisa suprir sua deficiência de discurso. Muito se trabalhou para que hoje em Minas, onde fará um discurso lido, ele mude a fórmula binária que tem usado. Ou ataca o governo no plano ético-administrativo, ou fala em choque de gestão sem traduzir isso em propostas compreensíveis. Seu desafio é passar aos eleitores a certeza de que elas produzirão resultados melhores do que os proporcionados até agora por Lula. Pois, apesar dos escândalos e da rejeição dos setores mais instruídos, são eles, somados às questões simbólicas (como o desejo de não interromper a experiência com um governante saído do povo), que têm mantido Lula no topo.