Título: DE OLHO NO EMPRESARIADO
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 11/06/2006, O País, p. 3

Cúpula tucana prepara discurso que Alckmin fará hoje centrado na economia

Os principais líderes tucanos, que estarão reunidos hoje na capital mineira para a convenção nacional do PSDB, prometem deixar de lado a má vontade e as restrições iniciais ao nome de Geraldo Alckmin e arregaçar as mangas para se engajar na campanha presidencial do partido. O temor de que o PSDB tenha um resultado pífio nas eleições de outubro passou a ser uma preocupação real da alta cúpula tucana. O primeiro resultado desse prometido engajamento poderá ser visto no discurso que o candidato Geraldo Alckmin vai ler hoje, de forte teor econômico e que contou com sugestões dos comandantes do PSDB.

Para evitar deslizes e garantir maior clareza à sua mensagem, Alckmin deverá ler o seu pronunciamento. O discurso começou a ser alinhavado há cerca de duas semanas durante um jantar na casa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do qual participaram, além do próprio candidato, o governador mineiro, Aécio Neves, o ex-prefeito José Serra, o presidente do partido, Tasso Jereissati, e o coordenador executivo da campanha tucana, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE).

Ataques a Lula serão evitados

A opção foi de que, na convenção nacional, o candidato deve expor os pilares de seu programa de governo que passam pela inflexão na taxa de juros e um ritmo de crescimento mais acelerado. Esse discurso terá como alvo principal mais o público externo, especialmente os formadores de opinião e mundo empresarial, do que os próprios convencionais. Os ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão diluídos ao longo do texto e discursos de tons mais populares, para a massa, serão feitos pelos demais tucanos.

¿ Temos um candidato para governar o país e não para bater em ninguém ¿ observou Sérgio Guerra.

¿ Alckmin aproveitará o discurso de apresentação de sua candidatura para colocar as linhas mestras de seu plano de governo ¿ confirmou Tasso Jereissati.

Embora digam que a mudança de rumo na campanha de Alckmin começará a ser sentida neste domingo, os tucanos sabem que as dificuldades são imensas: do desempenho do candidato nas pesquisas às alianças regionais, passando pela falta de estrutura partidária e financeira para tocar uma campanha de um partido do porte do PSDB.

Por isso, além de prestigiar a convenção e de ter dado o tom do discurso, a cúpula tucana tem dito nas reuniões dos últimos dias que também está disposta a promover algumas intervenções na campanha, de acordo com o candidato, claro. Tanto na política de comunicação da campanha de Alckmin, hoje centralizada nas mãos do publicitário Luiz Gonzales, como na organização financeira.

No encontro que tiveram no mês passado em Nova York, Fernando Henrique, Serra, Tasso e Aécio também começaram a discutir estratégias para o financiamento da campanha tucana e se dividiram na busca de doadores potenciais. Eles já organizaram alguns jantares com empresários e donos de veículos de comunicação para fazer uma apresentação da campanha de Alckmin.

A avaliação interna é de que Alckmin acabou sofrendo um golpe na sua estratégia inicial de campanha, baseada apenas na imagem do ¿bom moço¿ e do ¿bom administrador¿. Primeiro, com a denúncia de que sua mulher teria recebido de presente dezenas de vestidos de um estilista famoso, o que obrigou o candidato a tirá-la de cena. E por último, a crise na segurança em São Paulo.

Crise na segurança abalou candidato

Pesquisas qualitativas no estado confirmam que a maior parte da população debita na sua conta a responsabilidade pela onda de terror enfrentada pelos paulistanos, com os ataques de uma facção criminosa a bases policiais, que também acabou resvalando em Serra e Lula.

Ainda em junho, Alckmin e seus aliados se preparam para uma nova onda de ofensiva ao presidente Lula e ao PT. PSDB, PFL e PPS terão quase 90 minutos de propaganda partidária no rádio e na televisão para atacar o adversário. Depois, começa a campanha de rua, em seis de julho. A partir daí, com comitê organizado, o PSDB espera contar principalmente com uma infra-estrutura mais adequada. Por fim, a aposta maior é no horário eleitoral gratuito, a partir de 18 de agosto, quando os tucanos acreditam que o candidato alcançará a marca dos 30% de intenções de voto.

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