Título: REFORMAS QUE REDUZEM O CONSUMO
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 11/06/2006, Economia, p. 28

Distribuidoras fazem obras e dão geladeiras para cliente poder quitar conta

Se no campo, a palavra de ordem para estimular o mercado formal de energia é cooperativismo; nas cidades, o nome do jogo é eficiência. É em programas de redução de consumo que as distribuidoras têm gasto boa parte das receitas destinadas a programas sociais. Assim, proliferam-se as ações que incluem da reforma de instalações elétricas à doação de geladeiras; de aulas de consumo consciente a projetos arquitetônicos que privilegiem a entrada de luz natural nas residências.

Distribuidora com o mais alto índice de perda do país, a Ampla vai reformar a parte elétrica de 18 mil lares este ano. E ainda espera autorização da Aneel para instalar fiação, tomadas e interruptores em outros 32 mil. O investimento tem como alvo reduzir o consumo de energia para que o valor da conta de luz caiba no orçamento dos clientes que ficam inadimplentes e recorrem aos ¿gatos¿ por falta de dinheiro, não por má-fé.

É gente como dona Maria Marizette de Jesus, de 71 anos, que vive com os três filhos e respectivas famílias num terreno com quatro casas, em Porto do Rosa, São Gonçalo. Com mais da mais da metade da aposentadoria de R$380 comprometida com um empréstimo consignado, ela teve a luz cortada por falta de pagamento e, agora, depende de um ¿bico¿ puxado da casa da filha para iluminar sua residência.

¿ Eu só tenho geladeira, TV e um som, mas meus netos adoram deixar a luz acesa e tomar banho demorado. Digo a eles que não sou dona da Ampla, mas não adianta ¿ diz a aposentada, que freqüenta as aulas de eficiência energética da distribuidora.

Na casa de dona Marizette, há emaranhados de fios à mostra no teto e nas paredes. Tal como o banho demorado (o chuveiro elétrico consome o mesmo que 45 lâmpadas de cem watts), o excesso de remendos na fiação também gera perdas.

Por isso, as instalações elétricas serão reformadas, exatamente como a Ampla, dois meses atrás, fez na casa ao lado, onde vivem seu filho Reginaldo, a nora Jaciara e três netos. Em abril, a conta de luz bateu R$275 e não foi paga. Após a reforma, o valor foi reduzido a um terço: R$108. E tende a cair ainda mais, quando a família for incluída na faixa de consumo de baixa renda, no qual o governo dá subsídio de até 66%.

¿ Há muita perda por instalação inadequada. Já encontramos ligações feitas com fios de telefone e isolamento com sacos de supermercado. Mas também falta de informação. Às vezes, o consumidor não sabe do subsídio que pode reduzir o valor da conta ¿ diz Gislene Rodrigues, especialista em projetos sociais da Ampla.

Na Bahia, de 1999 a 2005, a Coelba trocou a fiação de 7.915 residências e doou 133 mil lâmpadas fluorescentes. Doze mil geladeiras serão distribuídas entre os consumidores de comunidades populares. Sejam em áreas urbanas, sejam no campo, são todos projetos empenhados em combinar consumo de energia e capacidade de pagamento, explica Marcelo Corrêa, presidente do Neoenergia, grupo que controla Coelba, Celpe (PE) e Cosern (RN). (F.O.)