Título: DISTÂNCIA ENTRE ÍNDICES SOCIAIS E ECONÔMICOS
Autor: Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 11/06/2006, Economia, p. 33

País, o mais pobre da região, seguiu FMI e desigualdade persistiu

BRASÍLIA. Quando os indicadores econômicos e sociais da Bolívia são comparados, é gritante a diferença entre um plano e outro. A inflação boliviana não passa de um dígito desde 1987, a parte fiscal está em ordem, há um superávit em torno de US$300 milhões na balança comercial. Por outro lado, trata-se do país mais pobre da América do Sul e o segundo da América Latina, só perdendo para o Haiti. Uma das razões é o altíssimo nível de desigualdade na distribuição de renda.

Segundo especialistas, como o Prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, o que mais causa indignação quando se olha a Bolívia por dentro é o fato de o país ter sido o que melhor seguiu a cartilha do Fundo Monetário Internacional (FMI) e os princípios do Consenso de Washington, que incluem a privatização e o arrocho fiscal. As reformas fiscais não mudaram o quadro de desemprego, pobreza e distribuição da renda concentrada.

Nem mesmo o baixo valor do salário-mínimo ¿ que recentemente subiu de 440 para 500 bolivianos (US$62) ¿ estimula a economia formal. O índice de desemprego é de 10%, mas há uma força de ambulantes, agricultores e trabalhadores vivendo em condições sub-humanas e que ajudam a movimentar a economia, cujo Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas geradas pelo país) é de US$9,3 bilhões.

Mesmo assim, a economia boliviana vem crescendo. Desde os anos 90, a taxa de variação anual do PIB é de 4% a 4,5%. O país está sendo particularmente beneficiado pela alta dos preços de commodities como o petróleo e a soja no exterior. São os principais produtos de exportações da Bolívia.

Entre as saídas, expansão forte e exportação variada

O diagnóstico feito por técnicos da área econômica do próprio governo boliviano é sombrio. Para que a renda per capita da Bolívia, de US$900, alcance a da Argentina (US$4 mil), será necessário um período de 131 anos, se nada mudar. Uma saída seria a economia boliviana crescer em torno de 10% ao ano em um curto espaço de tempo, suficiente para diminuir a linha de pobreza.

Outro desafio para o país consiste na diversificação da pauta de exportações. Atualmente, 65% das vendas externas bolivianas são gás natural e minérios. Os outros 35% são soja e derivados, alguns manufaturados, jóias e madeira.

Em dezembro deste ano, deixa de vigorar uma lei americana que permite a importação de produtos da Bolívia com tarifas menores, para estimular a substituição do plantio de coca por outros itens, como o café. A pergunta é como o país pode romper com um padrão de crescimento concentrado em recursos naturais. (Eliane Oliveira)