Título: EXECUTIVA TEM CARREIRA MARCADA PELA DISCRIÇÃO
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 11/06/2006, Economia, p. 39

Sucessor terá o desafio de negociar reajuste com a Vale

PEQUIM. Xie Qihua sai de cena com a mesma discrição que manteve nos 28 anos em que trabalhou para a Baosteel. Na verdade, ela não se retira imediatamente da empresa. Continua como diretora até o ano que vem, quando deverá ganhar a tarefa mais estratégica de consolidar o setor siderúrgico chinês, superaquecido e ainda fragmentado em várias empresas, segundo Mark O¿Neill, colunista de empresas do jornal ¿South China Monrning Post¿.

¿Nos últimos seis meses, Xie Qihua vem negociando parcerias estratégicas com três grandes siderúrgicas chinesas ¿ Magang, Ba Yi Iron and Steel e Taiyuan Iron and Steel ¿ além de se preparar para construir uma nova indústria com capacidade de produção de dez milhões de toneladas de aço e investir na parceria com a Vale do Rio Doce¿, afirmou O¿Neill.

O estilo da engenheira costuma ser definido por aqueles que lidam com a Baosteel como masculino, até mesmo na maneira de se vestir: com terninhos, sempre pretos.

¿ Madame Xie, como é conhecida, é uma executiva de confiança do Partido Comunista da China. ¿ conta um executivo brasileiro. ¿ Não gosta de exposição, fotos ou festas, e estuda com impressionante precisão seus interlocutores. Se ela gosta de um executivo, o chama pelo primeiro nome e sorri, um fato raro que demonstra sua confiança na pessoa.

Brasileira quer elevar preço do aço em 19%

Mas a tarefa mais espinhosa madame Xie deixa para seu sucessor, Xu Lejiang, de 47 anos, um especialista em tecnologia que deverá se concentrar em transformar a estatal chinesa em uma indústria de produtos de aço de maior valor agregado. Ele terá que bater o martelo na negociação de preços do ferro entre a siderúrgica e a Vale.

A empresa brasileira, que queria 24% de aumento no preço do minério nos contratos deste ano, fechou com a alemã ThyssenKrupp uma alta de 19% que, segundo especialistas, deve ser seguida pelo Japão. A China ¿ que produziu 350 milhões de toneladas de aço em 2005, 30% da produção mundial ¿ já disse que não pagará isso. Recentemente, correu nos mercados um boato de que a Baosteel teria aceitado os 19%, o que foi rapidamente negado pela empresa.

Em editorial no ¿Diário do Povo¿ no mesmo dia da reunião em que o Conselho de Administração da Baosteel substituiu Xie, o Partido Comunista da China declarou: ¿A indústria de aço da China está se desenvolvendo rapidamente em um setor com sinais contraditórios (aumento de custos e queda de preços), o que, por sua vez, provoca intenções especulativas e irracionais¿.

www.oglobo.com.br/online/blogs/gilberto