Título: PSB estica a corda
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 12/06/2006, O GLOBO, p. 2

Os principais líderes do PSB informaram à cúpula do PT e do PCdoB que o partido não fará coligação formal para apoiar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os socialistas alegam que precisam ficar livres para atingir os 5% da cláusula de desempenho. Os petistas dizem que o objetivo real é arrancar o apoio à candidatura de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco.

O presidente Lula tentou contornar o problema dizendo que gostaria que o PT e o PSB fossem um só partido no futuro. Mas o plano dos socialistas é ocupar um espaço alternativo ao PT na esquerda.

¿ Se o PSB quiser sobreviver, o melhor é não coligar ¿ diz o líder na Câmara, Alexandre Cardoso (RJ).

¿ Vamos dar apoio político à reeleição de Lula, mas sinto que não vamos coligar. Não podemos nos arriscar e não atingir os 5% ¿ afirma o ex-líder Renato Casagrande (ES).

Nas eleições de 2002, a candidatura de Anthony Garotinho levou o partido a fazer 5,28% dos votos. A tática para atingir os 5% nesta eleição é dar liberdade para que cada estado faça a melhor aliança. Os socialistas querem eleger 35 deputados e, a partir daí, atrair uma bancada de 80 a 100 deputados de partidos que não atingirem a cláusula de barreira.

As divergências regionais também pesam. A ex-prefeita Luiza Erundina (PSB) não quer se aliar ao PT. Em 2004 ela não apoiou a reeleição da prefeita Martha Suplicy e se lançou candidata à Prefeitura de São Paulo. O ex-senador João Capiberibe, candidato ao governo do Amapá, considera inaceitável que o PT não o apóie. A dificuldade maior está em Pernambuco. O presidente do PSB e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, é candidato ao governo e cobra o apoio do PT, que disputará a eleição com o ex-ministro da Saúde Humberto Costa.

Os petistas, que já apóiam os candidatos socialistas aos governos do Rio Grande do Norte (Vilma Faria) e do Ceará (Cid Gomes), não estão dispostos a fazer novas concessões. Avaliam que sem o PSB a chapa de Lula tem uma perda política simbólica, além de ficar sem um minuto e meio no tempo de propaganda eleitoral na TV. As negociações continuam até 28 de junho, quando o PSB realiza sua convenção nacional. A direção do PT não sabe se os socialistas levarão esta posição até o fim ou se vão roer a corda.

Frase do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) diante da decisão do TSE de endurecer as regras da verticalização: ¿Isso é pior do que o AI-5¿.

PT derrota o PCdoB na CUT

O eletricitário Arthur Henrique dos Santos, que tinha o apoio do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, é o novo presidente da CUT. Ele derrotou, numa escolha prévia da tendência Articulação, o atual presidente da entidade, João Felício. E também venceu, com 69,4% dos votos do congresso, o candidato do PCdoB, o metroviário e atual vice-presidente, Wagner Gomes, que teve 24,2% dos votos. O PCdoB pode perder a vice.

O novo presidente da entidade assumiu prometendo que a CUT terá maior autonomia em relação ao governo federal. Mas ao mesmo tempo defendeu o apoio dos trabalhadores à reeleição do presidente Lula. Arthur, que também é sociólogo, diz que em sua gestão a CUT vai reforçar a organização dos trabalhadores nos locais de trabalho e ampliar a mobilização pelos direitos sociais.

A CUT trava uma luta pela hegemonia do movimento sindical com a Força Sindical. A postura de apoio político ao governo Lula afetou a combatividade da CUT. Nesse vazio, a Força Sindical ampliou sua representação sindical.

Contradições

Nem todo o PT condena a violência do MLST na invasão da Câmara. O partido afastou Bruno Maranhão da Executiva e irá julgá-lo no Conselho de Ética. Mas em sua página na internet, o PT publicou artigo em defesa do MLST, dizendo que a invasão não foi premeditada. O MLST protesta contra as prisões e as confronta (numa referência ao mensalão e à Operação Sanguessuga) com o encobrimento dos que roubam do Estado.

JUSTIFICATIVA do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) para a invasão da Câmara pelo Movimento de Libertação dos Sem-Terra: ¿Quando começam a cair as paredes morais, aí as paredes físicas caem mais fáceis¿.

¿TOMA CONTA do seu deputado¿ é o título de uma cartilha de 20 páginas que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) está distribuindo. Ela ensina como os eleitores podem controlar os mandatos dos eleitos para a Câmara dos Deputados, as assembléias legislativas e as câmaras municipais.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Índios

Durante audiência com líderes indígenas do Xingu, quinta-feira, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), discutiu a criação de uma representação parlamentar indígena. A idéia é fazer com que os 500 mil índios elejam uma bancada de dez deputados. O objetivo é incorporar e integrar os índios à vida política do país. Os eleitos seriam porta-vozes de suas reivindicações, reduzindo o papel das ONGs.