Título: PSDB LANÇA ALCKMIN E MIRA LULA
Autor: Flávio Freire e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 12/06/2006, O País, p. 3

`Onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões?¿, indagou o candidato tucano

Ao oficializar ontem a candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência pelo PSDB, dirigentes tucanos adiantaram o tom que permeará a campanha eleitoral daqui em diante: artilharia contra o PT, críticas à condução do governo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, principalmente, tentativa de colar a imagem do presidente aos escândalos de corrupção que assolaram o país no último ano. Alckmin até sugeriu que Lula é o chefe da quadrilha denunciada pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza.

¿ Que tempos são esses, em que um procurador-geral da República denuncia uma quadrilha de 40 criminosos e no meio da lista estão ministros, auxiliares do presidente, amigos do presidente? Que tempos são esses, no Brasil, em que cada vez que ouvem uma notícia sobre a quadrilha dos 40, os brasileiros pensam automaticamente, em silêncio: `Onde está o chefe? Onde está o chefe, o líder dos 40 ladrões? ¿ bradou Alckmin ao fim do discurso lido da tribuna, ao lado da mesa onde estavam o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra.

Na convenção nacional que homologou a candidatura Alckmin e oficializou o senador José Jorge (PFL) como vice na chapa, os tucanos capitalizaram em cada discurso a saia-justa de Lula com o jogador Ronaldo e voltaram a responsabilizar o presidente pela invasão do Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) à Câmara dos Deputados, na semana passada.

No discurso de 19 páginas, elaborado pela cúpula tucana e lido em uma hora, Alckmin referiu-se a Lula como ¿cínico¿, ao lembrar a declaração do presidente de que o sistema de saúde do país estava ¿quase perfeito¿:

¿ O que demonstra mais uma vez que ou ele é cínico ou vive em outro mundo, totalmente mal-informado.

FH diz que Lula sujou as mãos

Antes dele, dirigentes do PSDB haviam atacado a corrupção no governo federal. O ex-presidente Fernando Henrique disse que passar a faixa presidencial para Lula foi uma das maiores emoções de sua vida, mas que teve decepção maior ao ver o ex-líder sindical esquecer o passado e se transformar, segundo ele, em ¿fanfarrão e frouxo¿.

¿ Ele (Lula) errou quando escolheu o PSDB como adversário e os partidos do mensalão como sustentáculos do governo. Sujou as mãos ¿ disse Fernando Henrique. ¿ O que aconteceu no Brasil foi a perda de respeito. Geraldo (Alckmin) não será fanfarrão, não será frouxo, trabalhará, não fará propaganda o dia inteiro.

As críticas continuaram:

¿ A vida pública deve ser opção para as pessoas de bem e não para quem tem na corrupção sua bandeira, como é o caso do governo Lula ¿ disse o governador e candidato à reeleição em Minas, Aécio Neves.

O presidente do PSDB, Tasso Jereissati, afirmou que o presidente age com dissimulação:

¿ O Brasil não pode ficar quieto olhando o maior escândalo sem fazer nada. É preciso mostrar ao povo quem é o homem que acabou com as esperanças de milhares de pessoas ¿ disse Tasso, admitindo após a convenção que a idéia é relacionar Lula aos escândalos. ¿ No momento em que isso (a eleição) terminar, a verdadeira ligação do presidente com a corrupção no governo vai estar clara.

Também no palanque, Serra, que travou duelo com Alckmin pela indicação do partido à Presidência, partiu igualmente para o ataque a Lula:

¿ Lula está hipotecando o futuro, fazendo do presente vítima de suas irresponsabilidades. Vamos juntar forças e fazer reabrir no Brasil a porta das esperanças... O Lula só se importa com marketing.

Os ataques a Lula diluíram o conteúdo programático do discurso de Alckmin, que ficou centrado em promessas para revitalizar a economia com política de juros mais flexível e reforma tributária. O candidato disse que, se eleito, levará ao Congresso no primeiro ano de mandato uma reforma tributária ¿que simplifique o modelo atual, estimule novos investimentos e busque eficiência¿. Segundo ele, com a atual política de juros o país perde em impostos 40% da riqueza produzida.

¿ Crescimento ou estabilidade é um falso dilema. O Brasil precisa dos dois. Fazer a economia crescer será uma obsessão do meu governo.

Todos comentaram o mal-estar provocado pela pergunta feita por Lula sobre se o craque Ronaldo estaria ou não gordo e a resposta do jogador, lembrando a polêmica sobre se o presidente realmente teria o vício de beber.

¿ Ele não quer que o Ronaldo faça gols. Parece que ele agora torce contra até os pés artísticos do craque ¿ ironizou o senador Arthur Virgílio.

Sobre a invasão da Câmara pelo MLST, não faltaram insinuações de que o presidente e o PT incentivam esse tipo de ação, uma vez que o movimento tem forte ligação com o partido.

¿ Sempre fomos apoiados pelos trabalhadores, não porque cedíamos a invasões, mas porque éramos honestos e tínhamos convicção.