Título: TGV PROMETE LUTAR ATÉ NA JUSTIÇA PARA GARANTIR A COMPRA DA VARIG
Autor: Cássia Almeida
Fonte: O Globo, 12/06/2006, Economia, p. 17

Consórcio não revela investidores e diz que cobrará por prejuízos com a demora

A NV Participações, consórcio formado por trabalhadores da Varig e mais quatro investidores ¿ que fez a única oferta válida de compra da companhia na última quinta-feira ¿ diz que não vai aceitar a rejeição da proposta e que está tendo prejuízos com a falta de homologação pela Justiça do lance feito pelo consórcio. Afirma que recorrerá à Justiça pelo lance. O advogado Otávio Neves, representante do consórcio, espera que o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio, entregue a companhia ao consórcio, mesmo sem informar quem são os quatro investidores.

A Justiça brasileira decide o futuro da Varig até amanhã, mesmo dia em que termina o prazo dado pelos tribunais americanos para que a companhia devolva as sete aeronaves à Boeing:

¿ Nós vamos brigar. É imensa a possibilidade que o Código Civil nos oferece. Vamos recorrer da rejeição da proposta, com mandado de segurança ou o que for. O edital não nos obriga a listar nossos parceiros. Vamos cumprir nossas obrigações.

Pelos prejuízos, Neves culpou, principalmente, a consultoria encarregada da reestruturação da Varig, a Alvarez & Marsal, e a administradora judicial da companhia, a Deloitte Touche Tohmatsu. Elas são apontadas como responsáveis pela demora na conclusão do negócio, por impor questionamentos à oferta do consórcio.

Proposta de pagar com debêntures é questionada

Liderada pelo Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), a NV ofereceu US$125 milhões à vista: US$75 milhões depositados até três dias após o arremate e o restante em 30 dias, conforme exigência do edital. Esse dinheiro viria desses investidores desconhecidos. Outra moeda viria de créditos dos trabalhadores no valor de US$100 milhões.

O questionamento partiu do uso de debêntures de participações no lucros. A proposta garante o pagamento de R$500 milhões em 20 anos. A cada ano, distribuiriam R$25 milhões ou 10% do lucro auferido. Se não houver lucro, ou for abaixo disso, essa parcela de R$25 milhões estaria garantida. Segundo Neves, as empresas questionaram os cálculos que atualizaram as debêntures a valores de hoje:

¿ Eles querem que troquemos pelo pagamento à vista. Isso é um absurdo. Esse atraso na homologação trouxe um pacote de prejuízos que vamos buscar de alguém. Há sete aeronaves paradas, e a empresa que compramos está perdendo valor de mercado. Vamos processar todos aqueles que tiverem sido responsáveis por esses prejuízos.

Para Neves, a NV já é dona da Varig operacional, mesmo sem a decisão final da Justiça. Ficaria com os atuais controladores, a Varig velha, com a dívida de R$7,5 bilhões.

¿ Se o juiz resolver anular esse leilão, vai fazer outro? Qual a vantagem da decretação da falência? Só para a gente não comprar. Vamos lutar até o fim pelo lance, lícito, que fizemos.

Questionado se o juiz exigir a listagem dos investidores para concluir o negócio, Neves adiantou que vai se opor:

¿ Se o juiz fizer exigência que não está no edital, obviamente vou me opor a ela.

O juiz Luiz Roberto Ayoub e os representantes da Alvarez & Marsal não foram encontrados para comentar as declarações do advogado da NV. A Deloitte disse que só se pronunciará se for levada à Justiça pelo consórcio.

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