Título: A bola eleitoral
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 13/06/2006, O GLOBO, p. 2

Com a decisão do PMDB de excluir-se da disputa presidencial, o quadro está praticamente fechado. Contra o presidente Lula vão concorrer Geraldo Alckmin (PSDB-PFL), a senadora Heloísa Helena (PSOL), provavelmente o senador Cristovam Buarque (PDT) e mais algum figurante, tipo Enéas. Alckmin esboçou um programa de governo no domingo e o PT fez o mesmo ontem. Até agora, nada que os distinga em essência. E, com isso, a cruzada ética ganha relevância no debate.

Foi só o começo, mas foi positiva a preocupação dos dois principais concorrentes em demonstrar alguma intenção de debater os problemas do país e suas propostas para enfrentá-los. Numa campanha digna do nome, o jogo começa é com a apresentação de idéias e projetos que fundamentem as escolhas do eleitor.

As melhores cabeças pensantes do PSDB foram mobilizadas para ¿dar conteúdo¿ ao discurso de Alckmin, que vinha sendo criticado até por aliados pela execução do samba de duas notas: ora atacava Lula e o PT no flanco ético aberto pelos escândalos, ora prometia um vago choque de gestão. O que ele mostrou mesmo no domingo foi a disposição de ir fundo no ataque à corrupção, apontando Lula como grande cúmplice. Mas, em matéria propositiva, pouco avançou. Prometeu fazer do crescimento uma obsessão, mas disso Lula fala o tempo todo, dizendo ter plantado no primeiro mandato as condições para um crescimento maior no segundo. Alckmin prometeu ainda a reforma tributária e fazer de educação, saúde e segurança suas grandes prioridades. Todos vão falar isso. A diferença estará no detalhamento, na fixação de metas e de caminhos para atingi-las.

O PT, em seu preâmbulo de ontem, foi um pouco além. Prometeu baixar os juros para 8% mas, depois das taxas que praticou, enfrentará desconfianças. Descartou a independência do Banco Central e prometeu uma reforma política, basicamente a mesma que já foi aprovada pelo Senado e empacou na Câmara. Em torno desta reforma é que o futuro governo, seja de quem for, terá que buscar o pacto, a ¿concertación¿ ou que nome tenha um acordo suprapartidário para aprová-la. Reforma política não sai por vontade de um só partido ou coalizão. O que não tivemos até agora (nem com FH nem com Lula) foi um governo capaz de articular as forças políticas com este objetivo.

Por fim, uma lacuna nos dois ensaios. Alckmin falou em redução dos gastos públicos mas não mencionou uma nova reforma da Previdência. Pelo PT, Ricardo Berzoini admitiu apenas ¿mudanças¿, contestando os que apontam o déficit previdenciário como entrave ao crescimento. Mas saibam os eleitores que esta reforma virá, com um ou com outro, ainda que evitem falar dela agora.