Título: SEM CANDIDATO, COM MAIS CARGOS
Autor: Gerson Camarotti e Luiz Claudio de Castro
Fonte: O Globo, 13/06/2006, O País, p. 3
PMDB enterra candidatura própria e já negocia com Lula novas vagas no governo
OPMDB sepultou ontem em decisão unânime da executiva nacional a candidatura própria à Presidência da República. Por 11 votos a zero, o partido decidiu ainda que, por não ter candidato, também não será realizada a convenção nacional marcada para o próximo dia 22. No final da tarde, enquanto no plenário do Senado o senador Pedro Simon (PMDB-RS) acusava os principais líderes do partido de terem negociado cargos e verbas com o governo, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP) estavam em audiência com Lula, na qual pediram mais cargos no governo.
No encontro no Palácio do Planalto, os dois senadores comunicaram ao presidente a decisão da executiva do partido e iniciaram negociações para fechar alianças estaduais e tratar de novos cargos para o PMDB no governo. A principal reivindicação da ala governista do PMDB, que fez de tudo nos últimos meses para enterrar a tese da candidatura própria, é a nomeação de um novo ministro para a Saúde ainda neste governo, já que os governistas do PMDB não reconhecem o atual ministro, Agenor Álvares, como uma indicação partidária.
Álvares é uma indicação do ex-ministro Saraiva Felipe, deputado pelo PMDB de Minas, mas que não é alinhado com o grupo liderado por Renan e Sarney. O PMDB quer já um nome do partido no ministério para garantir essa vaga ¿ o maior orçamento da Esplanada ¿ num eventual segundo mandato do presidente Lula. O PMDB também quer indicar cargos de comando em agências reguladoras, como a Anatel, e estatais como Correios, Eletrobrás e Conab.
¿ Os líderes do partido estão com ministérios, cargos e verbas. Isso pesou mais que a candidatura própria. Eles se aproveitaram dos cargos que receberam em nome do PMDB para usar contra o partido. Eles estão no partido para tirar vantagem até o fim. É uma pena. Esse talvez tenha sido o maior golpe que o PMDB levou em sua história. Foi uma punhalada ¿ disse Simon.
Grupo de Garotinho insiste em fazer a convenção
A reivindicação de mais cargos federais não é tratada publicamente pelo grupo governista. Antes de ir ao encontro de Lula, Renan Calheiros defendeu a decisão do partido:
¿ É melhor para o partido ficar solto e livre para fazer uma bancada forte e o maior número de governadores. Não é certo o que esse pessoal quer: levar o partido para a Justiça. A decisão de ter ou não candidato é do PMDB. Esse pessoal quer levar os seus interesses pessoais acima dos interesses do partido ¿ afirmou, referindo-se à liminar que garante ao grupo do ex-governador Anthony Garotinho a realização da convenção nacional dia 22.
¿ A decisão política foi tomada: o PMDB não terá candidatura própria. Fui até o limite para que o partido tivesse um candidato. Mas reconheço que, hoje, o PMDB priorizou fazer uma grande bancada e eleger o maior número de candidatos aos governos estaduais. Contra a realidade política não dá para trabalhar ¿ disse o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).
Com a decisão, os diretórios regionais do PMDB poderão se coligar livremente nos estados, mas o partido ainda precisa derrubar a liminar concedida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aliado de Garotinho. Temer disse que o partido vai tentar derrubar a liminar, mas que este é um assunto interno do partido:
¿ Penso eu que não cabe à Justiça determinar a data da convenção do partido. Isso é uma questão de economia interna do PMDB.
Pedro Simon, que havia lançado o seu nome para disputar a Presidência, reconheceu a derrota política. Na sexta-feira, ele já havia admitido que a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de desistir da verticalização radical ¿mudou o destino do PMDB¿ e enfraqueceu a candidatura própria.
¿ O PMDB não tem mais condições de ter candidato próprio. Não temos mais tempo para reverter essa situação ¿ lamentou Simon.
As divisões no PMDB fizeram o ex-governador do Rio desistir da cabeça de chapa e aceitar ser vice de Simon. Mas de posse da liminar que garante a realização da convenção, seus aliados insistem para que Garotinho retome a candidatura presidencial. O deputado Eduardo Cunha disse que a convenção será realizada, com ou sem o apoio da executiva do partido.
¿ A convenção vai acontecer, querendo eles ou não ¿ garantiu.
(*) Do Globo Online
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