Título: PT E LULA DIVERGEM SOBRE A PREVIDÊNCIA SOCIAL
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 13/06/2006, O País, p. 5

Berzoini diz ser contra nova reforma; o presidente e o ministro Tarso Genro deram recentes declarações a favor

BRASÍLIA. O PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estão com discursos desencontrados sobre a necessidade ou não de uma nova reforma da Previdência, num eventual segundo governo petista. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse ontem que a medida não é necessária, contrariando o discurso que o presidente Lula fez no último sábado em Vitória, e declarações do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, que criticou recentemente as elevadas aposentadorias do setor público. Berzoini, ex-ministro da Previdência, apresentou visão divergente do Planalto durante entrevista em que anunciou a comissão do PT que vai elaborar o programa de governo da campanha da reeleição:

¿ É equivocada a tese do rombo explosivo da Previdência Social. É uma tese dos que querem cortar a aposentadoria rural que beneficia sete milhões de famílias e pretendem a desvinculação do salário-mínimo das aposentadorias.

Lula diz que sociedade terá que compreender reforma

Para Berzoini não é necessário nova reforma da Previdência e diz que é possível continuar financiando os gastos previdenciários com a arrecadação do desconto em folha de pagamento, das receitas da CPMF, do Cofins e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.

Em Vitória, durante solenidade de lançamento de um gasoduto, Lula defendera a necessidade de reforma no setor.

¿ A sociedade vai ter que compreender que a Previdência, de tempos em tempos, tem que passar por uma reforma. Hoje, nós temos metade trabalhando e metade recebendo, então, entra menos dinheiro e sai mais dinheiro, as pessoas estão vivendo mais... Então, há um avanço na sociedade, que nós precisamos compreender, porque nenhum sistema de previdência, no mundo, suporta as pessoas viverem mais tempo recebendo aposentadoria do que o tempo que contribuíram, pagando a Previdência ¿ disse Lula.

Há três semanas, em palestra em São Paulo, Tarso Genro também defendeu mudanças e questionou os direitos adquiridos no sistema previdenciário.

¿ Temos que distinguir direito adquirido de privilégio adquirido. Os escravagistas afirmavam no século passado que a escravidão não poderia acabar porque eles tinham o direito adquirido sobre os escravos ¿ disse Genro, afirmando que o próximo governo terá de fazer mudanças profundas e acrescentando: ¿ Se não tivermos um teto regulador teremos uma distribuição da massa de recursos da União de uma maneira profundamente desigual, como por exemplo a diferenciação atual de um para 60, que considero uma distribuição de recursos indecente.

Com o aumento do salário- mínimo em abril, de R$300 para R$350, o déficit nas contas do INSS vai pular de R$37,6 bilhões em 2005 para R$43,2 bilhões em 2006.

¿ Falar em rombo previdenciário é tecnicamente inadequado ¿ insistiu ontem Berzoini.

O programa de governo que será elaborado pelo PT não prevê também a independência do Banco Central nem a adoção de um regime fiscal de déficit nominal zero como defendia o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

¿ Se nós pensarmos que nós temos hoje um superávit de 4,25% do PIB, uma taxa de juros real na casa de 7,5% a 8%, que é um desejo, que não pode ser fixado por decreto, passa a ser uma meta, digamos, razoável, para o curto prazo ou para médio prazo ¿ disse Berzoini.

¿Choque de gestão de Alckmin é de 10 volts"

O coordenador da comissão de programa de governo do PT, Marco Aurélio Garcia, assessor para assuntos internacionais do presidente Lula, informou que em 15 de julho será divulgado o Programa de Ação de Governo da candidatura Lula e que na primeira quinzena de agosto serão divulgadas 32 propostas de programas setoriais.

Ao responder à proposta do PSDB de extinguir ministérios criados no governo Lula, Marco Aurélio Garcia afirmou que aumentar ou reduzir ministérios não é uma questão essencial e comparou a medida a um ¿choque de 10 volts¿.

¿ É um choque de gestão de 10 volts (extinguir 12 ministérios). O que é preciso é uma reforma do Estado. Podemos reduzir ou não os ministérios. Isso não é elemento essencial ¿ disse Marco Aurélio.