Título: PF INVESTIGA CONVÊNIOS DO INCRA COM O MLST
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 13/06/2006, O País, p. 9

Sem-terra receberam R$5,7 milhões do governo federal; militantes já haviam participado de outros atos violentos

BRASÍLIA. A Polícia Federal vai requisitar cópias dos convênios que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) firmou com a Associação Nacional de Apoio à Reforma Agrária (Anara), entidade criada pelos líderes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST). A partir dessas informações, a PF tentará descobrir se, de fato, a entidade usou recursos federais para promover a invasão da Câmara, na semana passada. De 1999 até agora, a Anara recebeu R$5,7 milhões do governo federal.

Anotações de uma agenda apreendida em poder de Bruno Maranhão, um dos líderes do MLST preso no Complexo Penitenciário da Papuda, indicam que a manifestação custaria mais de R$83 mil. O documento também faz referência a uma possível ajuda da União. A PF também está fazendo um levantamento sobre as invasões de prédios públicos e fazendas promovidas pelos sem-terra presos. A polícia suspeita que, antes da invasão e depredação da Câmara, líderes do MLST participaram de atos marcados pela violência.

¿ Essa pesquisa certamente vai mostrar que o descontrole da invasão da Câmara não é um ato isolado mas, provavelmente, uma característica do movimento ¿ disse um policial.

Militantes já foram indiciados pela PF

Com base nessas informações preliminares, a polícia deverá sugerir que os 42 líderes e militantes comuns do MLST presos na Papuda respondam de forma solidária pela baderna na Câmara, mesmo que alguns deles não tenham participado diretamente dos ataques. Para a polícia, ao participar do protesto dentro da Câmara, líderes e militantes comuns assumiram conscientemente o risco de que a manifestação poderia degenerar em violência, como acabou acontecendo.

Inquérito pode ser concluído até o dia 23

Todos os 42 militantes presos já foram indiciados por formação de quadrilha, dano ao patrimônio, lesão corporal grave e por 36 lesões corporais simples. Laudo concluído pelo peritos da Superintendência da PF em Brasília indica que a baderna provocou um prejuízo de R$106,5 mil à Câmara e à Associação dos Servidores da Câmara. Só os reparos ao busto do ex-governador Mario Covas, uma das peças destruídas durante a invasão, custará R$1,5 mil. A Câmara já anunciou que cobrará os danos na Justiça.

A partir de amanhã, o delegado Gustavo da Cruz Santana, que está no comando das investigações, começa a interrogar os 36 policiais, seguranças e outros funcionários públicos agredidos durante a invasão. Com os réus presos em flagrante, a PF tem até o dia 23 para concluir o inquérito ou pedir a prorrogação das investigações por mais 15 dias. A partir daí, caberá ao Ministério Público decidir se oferece ou não denúncia contra os acusados. Eles responderiam, então, a processo criminal na Justiça Federal uma vez que o prédio atingido pelo protesto é de um dos Poderes da União.

Os 42 integrantes do MLST estão detidos em uma ala nova da Papuda. A mulher e amigos de Bruno Maranhão tentaram encontrar-se ontem com o dirigente do movimento preso, mas como não era dia de visitas, foram impedidos de entrar. O dia de visitas é na quarta-feira.