Título: Mortos chegaram a 492, com 52 execuções
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 13/06/2006, O País, p. 10

Durante onda de violência, média diária foi de 61 pessoas atingidas a tiros; três vezes maior que a de dias normais

SÃO PAULO. Um mês depois dos ataques que aterrorizaram São Paulo, os números, nomes e circunstâncias sobre as mortes e a autoria dos assassinatos continuam contraditórios. Ontem, a Ouvidoria da Polícia informou que já chegam a 52 as supostas vítimas de ataques de grupos de extermínio, a maioria deles formada por policiais. As vítimas, nominadas pela Ouvidoria, não aparecem na lista oficial do governo, de 188 mortos.

Também à margem dos dados oficiais, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou que 492 pessoas morreram no estado atacadas por armas de fogo na semana dos ataques, entre 12 e 20 de maio. A média diária, de 61 mortos, é três vezes maior que a de dias normais, de 20 vítimas. Alguns morreram com até 22 tiros. A média também é alta, de 7 tiros em cada vítima.

Os números oficiais dão conta de 188 mortos no mesmo período, sendo 123 civis suspeitos, 42 agentes públicos e 23 presos atacados durante rebeliões. Os 52 nomes da Ouvidoria não aparecem nessas listas. Os dados do Cremesp indicam que o número de vítimas pode ser ainda maior que o divulgado.

¿ Houve realmente aumento exagerado no número de mortos nesses períodos. Saímos da rotina para viver uma catástrofe ¿ disse o o presidente do Cremesp, Desiré Callegari.

Segundo o ouvidor, Antonio Funari Filho, há indícios fortes de grupos de extermínio, como testemunhas dos casos. A maioria das 52 vítimas era jovem, negra e pobre, alvos históricos dos esquadrões que agiam em São Paulo até 2004. Segundo Funari, até uma carta anônima, de uma suposta mulher de policial envolvido chegou à Ouvidoria:

¿ ¿Sou casada com um monstro¿, diz a mulher na carta, relatando a forma de ação e os nomes dos policiais que estariam envolvidos.